Coincidência, ou talvez não, quis o destino que quase todos
os países europeus mais envolvidos na crise europeia actual – Alemanha, Itália,
Espanha, Portugal, Grécia e em parte a França – sejam precisamente os mesmos
que no século passado protagonizaram o fascismo europeu. Até parece que estamos
assistindo à reinvenção do fascismo europeu, no passado a capital do nacional-socialismo
foi Nuremberga enquanto agora a capital desta refundação fascistas parece ser
Frankfurt.
No passado o nacional-socialismo alemão, o fascismo italiano
ou o Estado Novo de Salazar apresentava-se acima das classes sociais negando a
luta entre estas em que assentava o marxismo, não se assumia de esquerda ou de
direita, impunha a concertação entre patrões e empregados organizados de forma
corporativa. A refundação do fascismo apresenta-se igualmente como uma solução
que está acima da sociedade e ainda que nasça no domínio da economia deriva da
aplicação às sociedades dos princípios dos cursos de gestão, os países deixaram
de ser nações para passarem a ser empresas e como tal devem ser geridos.
Se Salazar afirmava o princípio de que a política é para os
políticos os novos fascistas desprezam a política, consideram-na uma inutilidade
prejudicial e que conduz a resultados negativos, a sociedade deve ser gerida de
acordo com os princípios da gestão empresarial e os governantes devem ser
Montis, designados pelas instituições financeiras, neste caso do BCE.
Para estes novos fascistas a política económica não visa o
progresso e muito menos o bem-estar dos cidadãos que não passa de uma consequência
possível caso a economia tenha excedentes. Para estes novos fascistas o ensino
não visa o progresso mas unicamente a preparação da mão-de-obra, a saúde é um
luxo para quem não é rico e deve ser comercializada de forma a tornar o seu
acesso mais de acordo com os padrões de riqueza da sociedade e não resultando
em aumentos de despesa pública.
Os novos fascistas demonstram um total desprezo pela condição
humana digna do nacional nacionalismo, sugerem cinicamente aos despedidos de
que deverão estar gratos a quem os despediu pois dessa forma tiveram um mundo
de oportunidades, vingam-se dos antecessores destruindo tudo o que de bom
possam ter feito, consideram a democracia um exercício de mentira.
Aquilo a que Portugal e a Europa está a assistir é à
refundação do fascismo, agora sob a forma de uma ideologia onde os conceitos de
sociedades são redefinidos à luz da gestão empresarial. Os povos dos países mal
sucedidos são convertidos em povos inferiores e ciumentos governados por
capatazes nomeados e apoiados pelos governantes dos regimes fascistas melhor
sucedidos. Os novos Hitlers já não acenam com o Mein kampf, acenam com papers
dos economistas do BCE, com os relatórios do FMI ou com as obras de Friedman ou
Hayec.