Com uma direita socialmente
minoritária e uma direita liberal ou ultra liberal quase sem expressão
eleitoral ou social não admira que as políticas de Passos Coelho sejam
apresentadas como um castigo ou mesmo uma vingança contra os portugueses.
Passos Coelho e Vítor Gaspar sabem que não vale a pena colocar as suas ideias a
debate, a não ser em ambiente controlado, dentro de palacetes, com artistas
convidados e onde a audiência está condicionada a um regulamento que lhe diz o
que podem dizer ou fazer.
Se Passos Coelho já não
representa ninguém muito menos as suas ideias ou o seu velho projecto de
revisão constitucional representam, mas o ainda primeiro-ministro e agora uma
espécie de quarto secretário do Palácio de Belém tem a chamada legitimidade
política, conta com o apoio do que resta do partido, tem o apoio generalizado
de uma direita que teme cada vez mais a reviravolta política inevitável e conta
agora com o apoio do arrais deste bote à beira do naufrágio.
A direita tem o que sempre
desejou ter, um primeiro-minsitro e um presidente, incompetentes mas tem.
Aliás, tem muito mais, um contexto financeiro de crise que a direita sempre
apreciou porque o pode tentar usar para governar em ditadura e um Durão Barroso
em Bruxelas que não se cansa de dizer que o que o povo português sofre é
merecido pois resulta das suas próprias culpas.
Esta direita socialmente
minoritária não se cansa de promover a sua contra-revolução apresentando-a ao
povo como um castigo merecido, o raciocínio é simples “ai votaram nessa
esquerda irresponsável? Então agora suportem as consequências!”. Se o país ou
as suas instituições ousarem fazer frente a este governo a resposta vem sempre
sob a forma de vingança, “ai não quiseram aquelas medidas de austeridade? Então
agora é que vão saber o que é bom e bonito, levam a dobrar, comem e ficam
calados senão ainda levam pior”.
Tudo é apresentado como um
castigo, o povo foi castigado porque consumiu demais, porque votou na esquerda,
porque ousou rejeitar o golpe da TSU ou porque beneficiou da protecção jurídica
do Tribunal Constitucional. Sempre que este governo enfrenta uma recusa da sociedade
é marcada uma comunicação oficial onde é apresentada a vingança. Nada neste
governo é apresentado a debate, consta de um programa que tenha sido sujeito a
sufrágio, todas as medidas, cada uma mais pesada do que a anterior é sempre a
resposta a uma recusa, é sempre uma vingança contra todo um país e um povo.~
Dizer que as medidas adoptadas
por este governo são uma consequência das imposições da troika, dos chumbos do
constitucional ou das manifestações populares é uma hipocrisia, tudo o que é
apresentado como vingança constava do projecto de revisão constitucional
apresentado muito antes de Passos Coelho ter seguido a sugestão de ser mais
troikista do que a troika. Paulo Teixeira Pinto, um velho militante da
extrema-direita, escreveu o projecto de constituição e Vítor Gaspar usa agora o
penteado de Passos Coelho para dar cobertura à experiência mengeliana a que
está sujeitando um país, numa tentativa desesperada de afirmar a validade
técnica das ideias dele e dos amigos de inteligência mediana de Frankfurt.