sábado, abril 27, 2013

Consenso com tiques fascistas


O governo reviu o memorando em negociações secretas com a troika sem ouvir o PS que era parte do memorando e ninguém ouviu Cavaco falar em consensos. O governo decidiu cortar mais de quatro mil milhões depois de Vítor Gaspar ter decidido que deviam ser revistas as funções do Estado e ninguém ouviu Cavaco apelar ao consenso. O governo cortou pensões e salários sem qualquer negociação e Cavaco Silva apelar a qualquer debate público ou consenso.

Isto nã quer dizer que Cavaco não seja a favor de consensos mais alargados, quando o PS governava com maioria absoluta Cavaco devolveu por várias vezes ao parlamento diplomas que este tinha aprovado com o argumento de que as matérias em causa justificavam um consenso mais alargado, mesmo quando a votação ia para além do PS mas não incluía a direita. Desde que a sua família política governa com uma maioria absoluta menos representativa do que a do PS Cavaco Silva nunca mais se lembrou de consensos.

Lembrou-se agora e a ideia nem sequer foi sua, foi a direita que percebendo o desastre eleitoral que se avizinha e receando a implosão social decidiu transformar o PS no seu air bag apelou ao consenso. Foi a pedido do governo que este “p”residente que cada vez mais é um presidente de inciativa governamental se lembrou do consenso.

Há pouco dias o governo atacou violentamente o Tribunal Constitucional e de seguida foi a Belém, tanto quanto se saiba Cavaco não falou em consensos, perante o comportamento do governo limitou-se a recordar que tendo maioria absoluta no parlamento tinha todas as condições para governar.

Numa semana Cavaco mudou de opinião o regime parlamentar deve auto-eliminar a diversidade de ideias e de projectos em torno do consenso das ideias, ideologia e projecto político de dois partidos que nunca representaram a maioria dos portugueses e que neste momento perderiam as eleições. Para Cavaco a democracia conduz a más soluções, deve ser eliminada a discordância e a diversidade para assegurar a eficácia das decisões do governo. Isto é, o PS deveria abdicar do seu estatuto de partido da oposição para passar a ser uma espécie de ala liberal da direita parlamentar.

Porquê? Porque o consenso consegue melhores resultados do que a diversidade, porque um país consegue mais progresso sem oposição, porque em situações difíceis não faz sentido pensar em eleições, porque o melhor governo é aquele que Cavaco Silva ajudou a eleger.

Já aqui se disse que um dia destes o Gaspar ou outro ministro viria sugerir que em nome do sucesso do ajustamento e do regresso ao mercado o melhor seria adiar as eleições legislativas. Não é difícil de adivinhar que no mesmo dia Durão Barroso viria dizer que aceitava a ideia, o seu comissário dos assuntos monetários aplaudiria e o Abebe Selassie diria que não estranhava nada, estava habituado a isso na Etiópia. O estranho é que tenha sido o suposto presidente de todos os portugueses a defender uma tese que pode conduzir a esta conclusão.

A tese não é nova, neste país já houve quem defendesse que a política era para os políticos e que substituísse a luta de classes pelo consenso do corporativismo. A tese do consenso não passa de uma forma de negação da democracia, é negar que na diversidade de ideias e de projectos se alcançam melhores resultados, o consenso defendido pela direita não é o resultado da luta e debate de ideias, é impor à sociedade um projecto e o consenso que se exige não passa do silêncio ou da concordância sem qualquer debate.

Aquilo que a direita quer impor ao PS e ao país não é um consenso. É o fascismo na versão soft, digamos que é um fascismo democrático. O Gaspar pensou na refundação do Estado e já vamos a meio caminho do novo Estado Novo, já existia um projecto económico, agora parece que começa a ganhar forma o projecto político, ao novo corporativismo chamam consenso. Dizem que faz sentido porque a democracia conduz a piores resultados.
 
Cavaco Silva foi primeiro-ministro durante 10 anos, beneficiou de milhões e milhões de contos de dinheiros da CEE onde Portugal entrou graças a Mário Soares, esbanjou dinheiro que deveria ter mudado o país, à sua sombra cresceu o a corrupção e nasceu uma classe de corruptos cuja carreira culminou no escândalo do BPN. Alguém se recorda de ter apelado ao consenso em torno seja do que for?