Como povo e como indivíduos somos o resultado de qualidade e
de defeitos, de coisas boas e de coisas muito más. Temos amigos que apreciamos
e inimigos que por vezes odiamos, vizinhos de quem gostamos e vizinhos que
detestamos, procuramos ser ou sermos vistos como boas pessoas mas todos
conhecemos gente que definimos como más pessoas. A regra é sermos boas pessoas
e um bom povo, mas não faltam exemplos de pessoas e de povos que de um dia para
o outro regressaram à barbárie.
Os alemães conviveram pacificamente com os judeus e de um
dia para o outro roubaram-lhes os bens e mandaram-nos para as câmaras de gás,
os jugoslavos uniram-se contra os nazis e foram os únicos eruopeus a
libertarem-se do nazismo sem qualquer apoio externo e veja-se o que os sérvios
fizeram aos bósnios. Não é preciso ir muito longe, aqui ao lado, na vizinha
Espanha, os padres, aqueles que agora chamam a si o valor da defesa da vida
andaram de porta em porta denunciando os republicanos, alguns com doze anos,
que eram de imediacto presos ou fuzilados pelos falangistas.
A paz é um bem precioso e cabe aos governos promover a
coesão social, defender o diálogo, promover o respeito das instituições, dar o
exemplo na defesa democracia. De um governo não espera-se tolerância e não
ódio, que una os portugueses e não aposte na sua divisão, que defenda o bem
colectivo e em vez dos privilégios de alguns, que reparta os benefícios e
sacrifícios de forma justa e equitativa.
Quando um governo adopta decisões como vingança ou com base
em ódios pessoais a determinados grupos sociais está abrindo a porta aos
fantasmas. Quando um governo ataca violentamente o tribunal a quem todo um povo
entregou a tarefa de velar por essa carta democrática nacional que é a
Constituição está abrindo a porta à ditadura. Quando as políticas são
justificadas como sendo castigos infligidos a um povo ou a um sector da
sociedade conduzem ao ódio. Quando um governo adopta uma política ainda mais
dura porque o povo se manifestou ou um tribunal se opôs está a governar na base
da vingança.
Quando um governo já não representa os eleitores que o
elegeram, quer governar sem respeitar as regras constitucionais, adopta
decisões a título vingativo e invoca a cunha de países estrangeiros para
consolidar a sua legitimidade estamos perante uma situação da qual pode
resultar uma crise tão profunda que põe em causa os fundamentos de uma nação.
Os portugueses estão sendo conduzidos ao ódio, promove-se o
ódio aos políticos, a direita promove o ódio à esquerda, a esquerda estimula o
ódio à direita, os ministros odeiam o Estado, os trabalhadores do sector
privado odeiam os funcionários públicos, estes odeiam os do sector privado, Em
vez de soluções para os problemas procuram as causas, em vez de governantes
empenhados em procurar saídas promove-se a culpa e a vingança.
A incompetência, o ódio, as ideologias extremistas estão
conduzindo o país ao conflito e ao colapso.