O Estado precisa de ser reestruturado e isso implica muito
mais do que cortes cartesianos da despesa, as funções do Estado não se medem em
milhões de euros. Há serviços a mais, dirigentes em excesso, apoios sociais
desequilibrados porque em vez de decididos em função das necessidades
resultaram de objectivos eleitoralistas, o ordenamento do território é do tempo
dos carros de mula.
Se quisermos questionar este país podemos começar no Estado
e acabar no Sporting, não é preciso ir contratar pensionistas e dar-lhes um
cartão de consultores do FMI para encontrarmos situações que geram ineficácia,
tropeçamos nela todos os dias e já nos habituámos à sua existência.
Sabemos que as autarquias sobrevivem por causa deste ou
daquele cacique, sabemos que os concursos no Estado são uma farsa, sabemos que
o restaurante onde vamos não entrega o IVA que pagamos, sabemos que o centro de
saúde está mal gerido. Conhecemos o diagnóstico e sabemos quem são os
responsáveis, mas ficamos resignados, há sempre uma cunha, uma ineficácia, uma
cobardia.
O governo poderia ter aproveitado a crise financeira para
eliminar muitos dos podres que impedem o desenvolvimento do país, poderia ter
adoptado o diálogo e a concertação, poderia ter usado o peso dos credores para
enfrentar os lóbis internos, poderia ter-se inspirado no seu liberalismo para
impor concorrência a mercados dominados por oportunista oportunistas, como a
banca ou a energia.
Mas o governo não fez nada disto, onde se esperava diálogo e
concertação viu-se prepotência, onde se esperava competência viu-se
incompetência, onde se esperava a defesa dos interesses nacionais viu-se a
entrega da soberania nacional nas mãos de governos estrangeiros. Tudo ficou por
fazer, as autarquias ficaram como estavam, os famosos institutos e fundações
sobreviveram, as gorduras do Estado estão bem e recomendam-se.
Apenas se cortou nos mais pobres e quanto mais pobres são
mais eles dizem que aguentam. Como já não é possível tirar aos pobres através
de cortes salariais ou de impostos opta-se agora por cortar nas funções
sociais, porque como diz o idiota do Salassie quem não tem dinheiro não tem
estado social. E se o Tribunal Constitucional decide repor alguma legalidade o
primeiro-ministro correr aos microfones para dizer que se vai vingar nas
funções sociais do Estado.
Isto já não é um governo, é um grupo de carrascos. Isto já
não é um país, é uma sala de tortura. Isto já não é uma nação, é um centro de
férias boche. Isto já não é um povo, é uma gaiola de cobaias.