Esta coisa da economia é como a saúde, quando não se percebe
do assunto o melhor é estar quieto e se a doença é grave o melhor é seguir os
protocolos cujos resultados são conhecidos do que ir ao endireita, rezar à santinha
da ladeira ou fazer experiências clínicas. Ora, o ministro das Finanças parece
ser um pouco de tudo o que de mau pode haver num falso médico, é um endireita
que acredita na santinha da Ladeira e acha que está habilitado a fazer experiências
médicas.
Nas previsões e já que os santinhos que o guiaram nas aulas
de religião e moral da católica (cadeira que tal como o rancho folclórico de
Tomar também contribuiu para a média que terá feito dele o melhor aluno da
turma) não são muito dados a promessas pagãs, ficamos com a impressão de que em
matéria de previsões económicas é um devoto da Santinha da Ladeira. Toda a
gente vê que a santinha não faz milagre mas todos os que acreditam na intercepção
divina da santinha, desde os que querem ter filhos macho aos que precisam de
ganhar na lotaria, acreditam nos poderes milagreiros da santinha. È o que
acontece com o Gaspar, ele acredita nas suas previsões com a convicção fanática
de um crente nos milagres da santinha.
Quando não reza à santinha o nosso melhor aluno da turma
aplica à economia portuguesa e aos portugueses os esticões de um endireita, ele
acha que tudo está torto no país e a coisa só lá vai com esticões fortes e
bruscos, sem direito a qualquer anestesia e pouco importando se em vez de curar
o braço deslocado parte o osso, é tudo à bruta e de uma vez. Se há consumo
interno a mais e exportações a menos é dar um esticão, os que trabalham passa a
escravos, os que vendem o que os escravos consumiam são forçados à emigração e
o Portas vai de continente em Continente vendendo os novos escravos da Europa
enquanto por cá exige a demissão do Álvaro e vai-se entretendo com os projectos
lançados por Sócrates. Primeiro vendeu o Magalhães, depois elogiou as exportações,
mais recentemente inaugurou o contrato da Comporta e acabou tecendo elogios ao
Simplex.
É com rezas e esticões que o ministro está testando as teses
de política económica que foi escrevendo ao longo de anos de obscuridade e
cinzentismo, A crise financeira do país, um primeiro-ministro fraco e um
presidente contemplador das expressões faciais das vacas (enquanto não as
trocarem por cavalos sem o avisarem, é o que está na moda) permitira-lhe
imaginar-se num laboratório de testes onde pode fazer a um povo o que nem um
Pinochet imaginava possível, mesmo com o apoio da DINA, é como se o Salazar
tivesse contratado o Mengele para ministro das Finanças do Estado Novo.