Se for feito um estudo de opinião sobre a paciência dos portugueses em relação a essa personagem que durante mais algum tempo vai continuar a exercer o cargo de “p”residente da República a conclusão óbvia é a de que os portugueses sofrem fadiga de Cavaco Silva ou, para usar uma velha alcunha, fadiga de eucalipto.
De um presidente espera-se alguém com coragem política, uma qualidade que Cavaco não evidencia, parece um político amedrontado e mesmo quando se torna agressivo fica-se com a impressão de que é quando se sente fortemente ameaçado. Foi o que sucedeu agora, com o país a ruir, a economia a desabar e sem se saber se a Europa muda a tempo Cavaco decidiu ser agressivo com o PS porque este partido não parece interessado na encenação do consenso.
De um presidente espera-se coerência pois sem essa coerência enquanto político e enquanto homem não se tem norte. Cavaco não tem coerência alguma, umas vezes é contra a austeridade, outras acha-a necessária, umas vezes não recorre ao Constitucional, outras vezes fá-lo, ainda que de má vontade., umas vezes discorda e não acredita nas políticas do ministro das Finanças, outras anda a apregoar o crescimento e o emprego no segundo semestre de todos os anos.
De um presidente espera-se que seja impoluto e que o seu comportamento esteja acima de qualquer dúvida. A verdade é que mesmo estando por nascer o homem mais honesto do que Cavaco Silva, também está por nascer aquele que conseguirá explicar de forma racional os lucros familiares com os negócios de acções da ruinosa SLN.
De um presidente se espera que o seja de todos os portugueses. Quando um presidente ganha as eleições assume a representação dos que votaram nele e dos que não votaram, coloca-se acima dos partidos e do seu passado político. Cavaco nunca o conseguiu, da mesma forma que nunca superou o desprezo que Saramago tinha por ele, não consegue agora superar o desprezo de Sócrates.
De um presidente espera-se um homem de cultura, mas Cavaco parece-se sentir-se mais à vontade junto das vascas do que da gente de cultura, ainda não deixou de ser o estudante de economia que se interrogava sobre o interesse dos seus colegas pela leitura de romances, hábito que considerava estranho.
Não admira que ao fim de anos a imagem de competência, de rigor ou de honestidade estejam a dar lugar à de uma personagem que faz recuar a simpatia pela instituição presidencial aos tempos de Américo Tomas. Os portugueses começam a revelar uma profunda fadiga de Cavaco Silva e isso provocou no “p”residente uma estranha mutação, se com a crise do acórdão do Tribunal Constitucional o governo de Passos Coelho passou a ser um governo de iniciativa presidência, com a cerimónia do 25 de Abril deu-se uma inversão e o país passou a ter um “pr”residente de iniciativa governamental.