A história em destas coisas, Marcelo Caetano foi anunciado como a primavera marcelista, quase meio século depois o seu homónimo e quase afilhado chega a Belém a poucos dias do início da primavera e volta a sentir o fim do cheiro a bafio, do bafo malcheiroso bafo cavaquista, com uma mudança política, desta vez na Presidência da República. Temos uma segunda primavera marcelista e esperamos que não volte a ser uma desilusão, como sucedeu da outra vez.
Mas as coincidências não se ficam por aqui, Marcelo substituiu Salazar depois de o ditador ter caído de uma cadeira de lona no forte de Santo António do Estoril, tendo batido com a cabeça no chão de pedra, até ao seu fim esteve convencido de que era presidente do Conselho. Por coincidência Passos Coelho caiu da cadeira nas últimas eleições, ainda não se percebeu muito bem se o malogrado primeiro-ministro bateu com a cabeça nalgum lado, o certo é que anda por aí de bandeirinha, convencido de que ainda é primeiro-ministro. Os seus ministros continuaram a falar com Salazar como se ainda fosse presidente do Conselho, agora são so autarcas do PSD que convidam Passos para escolas que funcionam há dois anos e o primeiro-ministro no exílio faz as inaugurações como se ainda cheirasse a cimento.
O Benfica lidera o campeonato, Passos Coelho está no exílio e inaugura escolas no seu roteiro dos autarcas do PSD, Cavaco assistiu sem desmaiar ao seu enterro político e Marcelo tomou posse acompanhado dos ministros do governo de António Costa, alguns deles perigosos elementos de um bando criminoso que foi acusado de fazer escutas a Belém. Os adeptos do SCP e do FCP que me perdoem, mas é um dia quase perfeito, melhor só se fosse o primeiro dias da primavera e feriado.
Chega de Cavaco, chega daquela imagem do Nunes Liberato a acompanhar as visitas à sala de trabalho, chega dos Catrogas e da seita da Quinta da Coelho a ser convidada a ir opinar a Belém só para vomitarem paras as televisões, chega da dona Maria, chega de carapaus alimados, chega de declarações sobre a honorabilidade de amigos como os Dias Loureiro, chega.
Marcelo é um homem com defeitos, até pode ser um divertido catavento, mas em relação ao que o país aturou nos últimos quatro anos é uma lufada de ar fresco, até poderá fazer intriga mas fá-lo-á com a classe que Cavaco e o seu braço direto Fernando Lima não têm. Até poderá dizer umas mentiristas, mas se as compararmos com as mentiras de Passos Coelho teremos de concluir que para que para Passos ser menos mentiroso teria de nascer três vezes, o equivalente a ser metido três vezes por lixívia.
Macelo pode ser o pior ou o melhor dos presidentes, tendo nascido num berço de ouro do outro regime está bem menos à direita do que o actual PSD. Talvez nos surpreenda na Presidência e dê uma ajuda preciosa para que o país saia do marasmo.