sexta-feira, maio 10, 2013

Igualar o diferente

Há poucos anos uma funcionária auxiliar das Alfândegas pediu autorização ao secretário de Estado para trabalhar umas horas em limpezas numa loja de um centro comercial. Os trabalhadores de alguns serviços estão impedidos de trabalhar fora do Estado sem que estejam autorizados e o secretário de Estado , que era Vasco Valdez sendo Manuela Ferreira Leite a ministra, indeferiu o pedido com o argumento de que isso representaria uma ofensa à dignidade das Alfândegas. Em nome da dignidade das Alfândegas a funcionária ficou impedida de ganhar mais uns tostões pois neste país uma empregada auxiliar destruiria a dignidade das Alfândegas só por trabalhar. 
  
Isto é um bom exemplo das restrições a que estão sujeitos muitos funcionários públicos, tenham ou não dificuldades económicas, sejam bem ou mal remunerados, estão impedidos de trabalhar fora do Estado, algo que não sucede no sector privado. Poderia Belmiro de Azevedo despedir uma empregada da limpeza porque nas suas horas de folga trabalhou umas horas em limpezas domésticas? Ficaria a dignidade da SONAE ofendida por tal gesto?
  
É evidente que há polícias a fazer de taxistas como deverá haver soldados da GNR em funções privadas menos compatíveis. Com o corte dos subsídios um agente da polícia ou um soldado da GNR arrisca a vida, trabalha horas a fio, corre riscos e ganha menos do que muitos funcionários das empresas de segurança cujo trabalho é estarem sentadinhos e dizerem bom dia a quem vai entrando.
  
Pergunte-se quanto ganha um piloto de helicópteros que faz salvamentos ao largo dos Açores, um engenheiro maquinista que rebenta os tímpanos nos submarinos ou um piloto aviador e compare-se com o que ganham idênticas profissões no sector privado. Sejamos claros, um capitão de fragata que comanda uma fragata da classe Meko, que passa meses no mar, que tem centenas de homens sob o seu comando e é responsável por poderoso equipamento militar ganha menos do que o responsável por um daqueles grandes iates de luxo fundeados em Vilamoura. E se for necessário o comandante da fragata assume os riscos mesmo que forem necessários em defesa do seu país.
  
Este governo mentiu, inventou um estudo que ninguém analisou seriamente para criar dos funcionários públicos a imagem de malandros, desta forma arranjou vítimas para pagarem a crise, assim pode evitar enfrentar os trabalhadores do sector privado e, mais do que isso, poupar os financiadores habituais dos partidos da direita. Sempre que o ministro das Finanças falha encontra-se mais um argumento para atacar direitos dos funcionários públicos, os direitos dos trabalhadores do sector privado, dos trabalhadores do Banco de Portugal, dos empresários e dos banqueiros são direitos adquiridos que só podem ser alterados por negociação. Os direitos dos trabalhadores do sector públicos foram roubos que estes fizeram no passado e que agora devem perder sem qualquer negociação.
  
O mais grave é que uma boa parte do nosso povo e a generalidade dos comentadores oportunistas aprovam esta ideia, dessa forma sacrificam outros a uma carga brutal de austeridade. Esquecem que um dia vão precisar de chamar a polícia, da ajuda dos bombeiros, do dinheiro cobrado pelo fisco ou do trabalho de um médico. Arriscamo-nos a que os funcionários públicos digam que são meros empregados do Belmiro de Azevedo, que não estão ali para correr riscos, para defenderem a pátria, para velar pelo interesse nacional, isso foi coisa do passado que o governo de um imbecil acabou em conluiu de um povo desesperado e desorientado.