quarta-feira, setembro 07, 2011

Acabou o estado de graça, começou o de desgraça

O governo não tinha apenas dois meses para aplicar o acordo com a troika, facto de que não se pode queixar pois o PSD foi o maior defensor da intervenção externa e tudo o fez para a precipitar, tinha também pouco tempo para mostrar que no plano dos valores e da competência era melhor do que o seu antecessor tal como o prometeu. Passados dois meses a descrença até chegou aos seus apoiantes, Passos Coelho já tem pesadelos em que vê tumultos na baixa da capital e Porta assusta-se com greves generalizadas contra as quais não pode mandar a mesma fragata que em tempos mandou contra a traineira do aborto.

Passos Coelho mostrou que em matéria de asfixia democrática não tem nada a ensinar a José Sócrates, nunca um governante foi impedido de o ser como sucedeu com Eduardo Bairrão, com um sms da Manuela Moura Guedes que segundo se diz fazia insinuações em relação ao antigo líder da TVI, insinuações que se veio a saber estarem relacionada com uma relação estranha entre a empresa que vai ficar com RTP e os serviços de informações.

Em matéria de boys a escolha da administração da CGD e a “reintegração” de vários antigos gestores do BPN em altos cargos do Estado demonstra que Passos Coelho já perdeu a autoridade moral para falar do tema.

Depois de tanta mentira dita Passos Coelho nem sequer pode agitar o velho espantalho do Sócrates mentiroso, nunca um primeiro-ministro mentiu tanto em tão pouco tempo e talvez seja por isso que ao contrário do que fez com o PEC III já nem se dá ao trabalho de pedir desculpa. Aliás, ao contrário do sucedia com o governo anterior em que Sócrates dava a cara ao lado do ministro das Finanças pelas medidas de austeridade, Pedro Passos Coelho desparece e manda o ministro dar uma entrevista à SIC.

Passos Coelho nem sequer pode questionar os erros de previsão do governo anterior, nem sequer é necessário esperar pelo final de 2012 para se perceber que esse não será o ano zero do fim dos apertos, corre-se mesmo um sério risco de ser o ano um do colapso da economia portuguesa.

Nunca na história de Portugal um primeiro-ministro começou a falar de tumultos pouco mais de dois meses de tomar posse, nem passou pela cabeça de um ministro dos Negócios Estrangeiros vir falar de greves, ainda não ocorreu qualquer incidente e o governo já se começou a barricar, com Portas a expelir demagogia e Passos Coelho a pensar em canhões de água.

O governo não pode nem quer recuar nos excessos, as notícias relacionadas com a economia mundial são más e as medidas estão agendadas. Passos não recuperará a imagem que perdeu, não serão as entrevistas dos seus ministros a recuperá-la e daqui para a frente serão só más notícias. Este governo já foi.