O politicamente correcto passa a ideia de que os povos são sábios no momento do voto e que decidam sempre de acordo com os superiores interesses do país, da região e da autarquia. Temos autarcas que se afirmaram inocentados pelos resultados eleitorais e até Cavaco usou os resultados eleitorais como prova de confiança na sua honestidade.
A verdade é que os resultados eleitorais não resultam de nenhuma reflexão colectiva e muito menos da preocupação de todos os eleitores o país. Isaltino Morais ganhou, Fátima Felgueiras ganhou e o Alberto João também vai ganhar. Se em vez de um buraco financeiro o Alberto João fosse acusado de ter desviado dois mil milhões em dinheiro dos madeirenses para o orçamento da República não só já teria sido declarado derrotado como muito antes disso seria empalado no centro do Funchal.
Mas aquilo de que o Alberto é acusado é de ter enganado os cubanos e sacado mais dois mil milhões para distribuir pelos madeirenses, o que dá qualquer coisa como uma média de 8.000 euros por cada eleitor madeirense. Como os que votam habitualmente no Alberto João receberam indirectamente mais do que os outros e até os palermas que nada ganharam e se limitaram a beber umas ponchas na festa de Chão da Lagoa acham que o Alberto é o maior, o resultado das próximas eleições está no papo. EM média cada madeirense recebe a metade do subsídio de natal de dez cubanos e isso significa que para os eleitores madeirenses o seu Alberto é um verdadeiro herói regional.
Não admira que o grande argumento do Alberto seja o de que ao longo de anos a Madeira foi roubada por Lisboa, na prática está passando a mensagem de que “ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão”. Em vez de um aldrabão grotesco o Alberto João é o Robin Wood da Madeira.
Se os eleitores tivessem dúvidas quanto ao estatuto de herói que atribuem a Alberto João deixariam de as ter perante o silêncio dos mais altos responsáveis do país. Cavaco Silva quase não comenta e pouco mais diz do que o mínimo necessário para que não o acusem de silêncio, Passos Coelho diz umas palavras que parecem ter sido combinadas com o alberto João e não vai à Madeira durante a campanha, algo que o Alberto João até dispensa. Além disso em vez de reequilíbrio das contas da Madeira o governo fala em solidariedade e qualquer madeirense já percebeu que o esforço adicional por conta do desvio colossal corresponde, mais euro, menos euro, ao buraco das contas madeirenses.
Os Madeirenses receberam mais 8.000 em cima do muito que já recebem e já perceberam que garças ao aumento do IVA na electricidade e ao corte dos subsídios de natal dos cubanos o governo já tem folga para poder ser solidário com o Alberto João. Só se fosse parvos é deixariam de votar no Alberto João, teriam mesmo de ser doidos pois sabem que se o PSD perder as eleições o governo de Passos Coelho estará mais à vontade para exigir sacrifícios à Madeira, com uma vitória do PSD regional será mais fácil obrigar os cubanos a suportar as consequências da gestão oportunista dos madeirenses.