quinta-feira, setembro 01, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento 


Mouraria
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Avis [A. Cabral]
  
Jumento do dia


Vítor Gaspar

A explicação patética de Vítor Gaspar para o famoso "desvio colossal", expressão que lhe agradava em especial segundo o mesmo afirmou, ficará para a história deste governo, não só pela forma ridícula como o ministro a fez mas porque a Comissão Europeia confirmou e os portugueses perceberam que entre "desvio" e "colossal" o que existia é o Atlântico que separa o "contenente" e a ilha tropical do Alberto João.

Percebe-se agora porque o tal desvio colossal que serviu para roubar o subsídio de Natal aos portugueses não era explicado nem foi ventilado nas sucessivas execuções orçamentais, insinuou-se uma derrapagem nas contas que não seria da responsabilidade do actual governo, adoptou-se um aumento dos impostos e hoje os portugueses percebem que foram ludibriados pela aparente ingenuidade od ministro. Havia mesmo um desvio que foi mascarado para que os portugueses não percebessem que estavam a ser sacrificados para financiarem os desvarios financeiros dos madeirenses.

«O défice público nacional deste ano vai sofrer um desvio por causa da Madeira, não de 277 milhões de euros como disse a troika a 12 de Agosto mas sim de 500 milhões, revelou fonte oficial da Comissão Europeia.

Hoje, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, levantará o véu sobre os futuros sacrifícios a pedir aos portugueses, sabendo já que a situação financeira ruinosa de uma empresa detida pelo Governo Regional madeirense e a extinção de uma sociedade que promovia obras rodoviárias em regime de parcerias público-privadas (PPP) são responsáveis por um agravamento do défice nacional equivalente a 0,3% do produto interno bruto.» [DN]
 
 Uma pequena pergunta
 
Quais foram as despesas em que se verificou o tal corte histórico anunciado pelo Álvaro e confirmado por Passos Coelho?

    
 

 A democracia sob escuta

«Ao que parece andam por aí a escutar-nos. E, anteontem, o DN publicou as inquietações de algumas pessoas, umas conhecidas, outras nem assim, sobre tão respeitável problema. Creio que todos nós, de um modo ou de outro, escutámos um clique suspeito no nosso telefone. Houve quem vociferasse impropérios e obscenidades, e quem se resignasse com a displicência aprendida no conceito segundo o qual não há nada a fazer. Nos dois casos, o Governo era sempre desconfiável. A PIDE varejava-nos com eficácia e tenacidade. Mas o País estava moralmente enfermo. Sabe-se que cerca de quatro milhões de portugueses estavam com ficha na polícia política; e, segundo fontes fidedignas, mais de quatro mil portugueses eram informadores.

Pasma-se como isto foi possível. Mas foi. E o clique telefónico que, ocasionalmente, continua a ouvir-se resulta desses comportamentos, afinal estruturados, que permitem todas as nossas desconfiadas conjecturas.

É muito difícil construir-se a democracia sem serviço de informações. Como é difícil aceitar esse serviço de ânimo leve, sobretudo os que, como nós, portugueses, fomos marcados por três séculos de Inquisição, pelos "moscas" do Pina Manique e pela polícia política de Salazar. Adicione-se o facto de possuirmos características de coscuvilheiros e de a inveja fazer parte da nossa condição. O medo e a desconfiança coabitam connosco. Fome, miséria, desemprego, velhice sem segurança, juventude privada de futuro, eis o que nos deixa sem salvação social, cívica e moral.

Haverá falta de legitimidade quando nos escutam? Dizem que não, e que as leis nos protegem. Mas tudo isto apresenta-se, agora, com traços fraudulentos. E as notícias recentes, se exprimem um certo culto da subjectividade, não deixam de constituir aquilo que Jean-Pierre Le Goff chamou a "barbárie melíflua" (La Democratie post-totalitaire). O poder, em Portugal, sempre foi paternalista, e encarrega-se, ele próprio, de assegurar o que devemos ser e velar sobre como devemos estar. Quando Passos Coelho declara que não vai enviar ao Parlamento o resultado do inquérito às fugas de informação e às escutas, sob o pretexto do "segredo de Estado", a figura do poder e o desprezo pela democracia revelam-se sem dissimulação.

A criação de uma democracia fictícia encontra-se no vocabulário e na construção do discurso governamental. Não só neste: em todos. E as noções empregues definem-se pela ambiguidade. Há dias, na SIC Notícias, Ângelo Correia esclareceu, com ironia, que, quando os inquéritos são longos e rigorosos, prolongam-se sem conclusões, e quando são rápidos e lestos não chegam a conclusões nenhumas. Não há melhor explicação do real circundante. O pior é que está a solidificar-se a cultura da indiferença, filha da ideologia da negligência.» [DN]
Autor:

Baptista-Bastos.
    
 A morangada: uma geração rasca de actores

«De alguns anos a esta parte, em especial desde que surgiram formatos televisivos amorangados, macacadas com vampiros de mochila às costas e rebeldias do acne que a televisão em Portugal (e parte do cinema por arrasto) se tornou numa espécie de viveiro de actores que apenas o são porque alguém os enganou enquanto espremiam as borbulhas uns aos outros num casting de manequins. Uma bandalheira generalizada. E perdeu-se espaço para o talento que marcou muitas e boas gerações de actores neste país.

A formação hoje em dia vem depois, quando o "actor" está farto de ser "actor" e decide ir estudar qualquer coisinha ligada à representação porque não pode fazer de adolescente toda a vida, normalmente escolhem o estrangeiro, vulgarmente Los Angeles porque " lá fora é que é bom". Para esta malta fazer um curso de representação nos EUA é como ir ali ao Pingo Doce comprar fruta da época, sabe bem. Resultado: em Portugal hoje em dia é comum uma pessoa sem qualquer formação ou aptidão especial para representar começar a fazê-lo, por variadíssimas razões, que vão da simples aparência ao facto de serem sobrinhos do não sei quantos ou, muito frequentemente, por não se importarem de dormir com metade da equipa de produção, som, imagem e ainda com o individuo que estaciona os carros à porta dos estúdios e vá -toma lá umas deixas que começas amanhã às 8 a ser uma vedeta.

Não querendo generalizar mas avaliando o estado geral de coisas (basta sintonizar as televisões portuguesas a algumas horas do dia e estar uns minutos atento - mas sem exageros não quero induzir o coma a ninguém) o vulgar jovem actor português de televisão é hoje uma espécie de batido de estupidez com natas e açúcar. E vale tudo. Do rapazola musculado modelo de roupa interior a fazer de galã mas com a expressividade de um pinheiro até à adolescente "boazona" mas que é necessário ter um tradutor de "troglodita" para português para se entender o que diz. Daí à passagem a apresentadores é apenas um passo, dois castings e três noitadas. Chamam-lhe produção nacional. Eu chamo-lhe disfunção cerebral. Completa estupidez de quem gere este sistema.

E nascem assim as novas "vedetas" deste país. Ganham tiques e começam a comportar-se como tal. O ridículo total. Alguns são detidos uns meses mais tarde por posse e venda de estupefacientes num qualquer bairro problematico dos arrabaldes. A passadeira vermelha está estendida a tudo o que é grunho. A maioria destas pessoas é desprovida de talento, capacidade ou inteligência. Infelizmente neste país à beira mar plantado e mal regado quem se dedica de alma a esta nobre arte de entretenimento do público através da representação, quem opta e sonha ser actor e para isso estuda e treina aptidões e a vocação com que nasce (não é coisa que de adquira na Bershka), raramente tem uma verdadeira oportunidade de o demonstrar, pois tem os caminhos tapados por uma fila de morangos deslavados e salas cheias de vampiros de boné na cabeça e brinquinho na orelha. Uma tristeza saloia.» [Expresso]

Autor:

Tiago Mesquita.
  

 Descoberto o buraco colossal

«A Comissão Europeia confirmou hoje a notícia do DN sobre "deslizes" nas contas públicas da Madeira na ordem dos 500 milhões de euros, que agravam o défice português em 0,3 por cento do PIB, e reclamou uma melhor monitorização para prevenir novas derrapagens.» [DN]

Parecer:

E vamos ficar sem Natal para dar dinheiro a alarves.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se.»
  
 Crato prepara o ambiente para o despedimento de professores

«O ministro da Educação afirmou esta terça-feira que os cortes na Educação são "inevitáveis" e que há que estar preparado para "uma grande redução da despesa", mas remeteu o anúncio para o primeiro-ministro e o titular das Finanças.» [DN]

Parecer:

Um corte nas despesas do Ensino significa despedimento de professores o que, aliás, já está a ser preparado por medidas como o aumento do número de alunos por turma.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Mário Nogueira se já tem saudades do governo de José Sócrates.»
  
 Menos 95 milhões para as universidades

«As universidades portuguesas vão ter menos 66 milhões de euros e os politécnicos menos 29 milhões de euros, em 2012. A informação foi comunicada pelo Ministério da Educação ao Conselho Permanente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e confirmada ao Diário Económico por Fernanda Matias, vice-reitora da Universidade de Coimbra.

No total, são menos 95 milhões de euros no orçamento destinado às instituições do Ensino Superior, o que significa um corte de 8,5%. A Universidade de Lisboa terá um "corte de 8,46%, e de 2,5% na cativação, o que dá cerca de 11%", revela o vice-reitor da instituição, António Vasconcelos Tavares.» [DE]

Parecer:

É muito dinheiro para um sector que se queixa sempre de não o ter.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pela resposta dos ilustres reitores.»
  
 O agente secreto que se aproximou do PSD

«Jorge Silva Carvalho chegou a estar muito próximo do PS. Depois entrou nos serviços de informação e mereceu a confiança de Júlio Pereira, secretário-geral do SIRP nomeado por Sócrates, para ser o seu chefe de gabinete. Daí saltou para director do SIED, também nomeado pelo segundo governo de Sócrates, sendo o primeiro elemento oriundo dos serviços a ocupar esse lugar. Anteriormente, a chefia do SIED era uma reserva dos diplomatas.

Em Novembro de 2010 Silva Carvalho bate com a porta, nas vésperas da importante cimeira da NATO em Lisboa. O gesto foi tudo menos inocente. Em trânsito na Ongoing de Nuno Vasconcellos, Jorge Silva Carvalho tinha a esperança de regressar aos serviços de informações pela porta grande. Defensor da fusão do SIED com o Serviço de Informações de Segurança (SIS), pensava que seria o eleito pelo governo de Passos Coelho para pai dessa reforma importante e ao mesmo tempo transformar-se no grande patrão das secretas portuguesas.

Acontece que na guerra entra a Ongoing e a Impresa de Balsemão apanhou em cheio Silva Carvalho. Com a ajuda de alguns inimigos que deixou no SIED, o semanário divulgou as fugas de informações estratégicas para a Ongoing e agora o mesmo jornal teve acesso à listagem dos telefonemas e SMS do jornalista Nuno Simas, que terá sido obtida pelo SIED de Jorge Silva Carvalho à margem da lei. Dois tiros certeiros que acabaram com os sonhos de Silva Carvalho no reino das secretas.

Agora, com vários inquéritos em curso, um deles exigido pelo próprio primeiro-ministro ao ainda secretário-geral do SIRP, teme-se o pior. É que o ex-director do SIED não é pessoa para ficar quieta a ver o seu próprio enforcamento. Com os serviços completamente balcanizados e com diversas guerras em curso, é muito natural que saltem para a opinião pública mais escândalos, alguns bem mais graves que os já conhecidos e que podem apanhar em cheio peixes graúdos.» [i]

Parecer:

Isto vai acabar mal.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Reserve-se lugar na primeira fila do espectáculo.»
  

 Hurricane Irene [Boston.com]