Ouvir uma ministra do governo francês dizer que vais mandar uns técnicos à Grécia para ajudar este país a ter uma administração fiscal (ou o que quer que seja) digna desse nome deveria encher de vergonha não só qualquer grego como qualquer europeu. Da mesma forma, ver alguns países europeus com museus cheios de peças pilhadas na Grécia exigir garantias financeiras a este país na hora em que atravessa uma grave crise deveria motivar-nos indignação.
Parece que alguns países do norte da Europa, entre os quais alguns novos-ricos como a Finlândia, exigem ao sul da Europa é a humilhação, os velhos bárbaros invadem-nos agora com um euro traiçoeiro que nos obriga a ajoelhar-nos perante as suas condições.
É cada vez mais evidente que a Europa está sem líderes à altura e muitos países são governados por uma nova geração de políticos sem qualquer visão histórica e que condicionam o processo de integração europeia a meras sondagens eleitorais. Com o argumento do respeito pela vontade dos seus eleitores ou do dinheiro dos seus contribuintes estão condicionando as soluções às motivações mais egoístas, aos sentimentos mais retrógrados das suas maiorias eleitorais ignorantes.
Sem uma liderança europeia à altura das circunstâncias, de que o Durão Barros é o exemplo mais patético, resta-nos o sentido da dignidade enquanto Nação, mas se isso implica fazer sacrifícios colectivos em nome do país implica um modelo de governação diferente, capaz de mobilizar a maioria dos portugueses e que tenha por base um contrato social que assegure não só uma repartição dos sacrifícios por todos os portugueses, como uma distribuição equitativa dos resultados.
Infelizmente não da disto está sucedendo, as elites empresariais estão aproveitando a crise para conseguir o modelo de relações laborais do tempo em que tinham uma polícia política para assegurar a submissão dos trabalhadores, alguns dos que mais lições de moral dão ao país empanturram os tribunais com recursos para adiarem o pagamento de impostos e como se isso não bastasse ainda instalam as suas holdings noutros países onde pagam menos impostos, a autonomia permitiu que uma região pratique um autêntico proxenetismo financeiro.
Por onde andam os bem pensantes que em tempos promoveram um manifesto defendendo um governo de unidade? Conquistada a maioria absoluta remeteram-se ao silêncio e agora concluíram que tal á não é necessário e que os problemas se resolvem com bordoada. Um deles até já defende uma constituição por referendo, se calhar até já tem uns livrecos preparados para serem publicitados nos altifalantes do Pingo Doce, como sucedeu durante as legislativas quando os velhinhos que iam às compras ouviam todos os dias um empregado do Soares dos Santos perguntar-lhes se sabiam se iriam ter pensão de reforma ao mesmo tempo que lhes sugeria a compra de um borda d’agua da sua fundação.
O país está transformado numa serva onde a regra é o salve-se quem puder, uns pagam mais impostos e recebem menos salários, outros aguardam ansiosos pela redução da TSU e já fazem contas a quanto vão ganhar com as águas privatizadas ao preço da uva mijona. A troco do enriquecimento fácil proporcionado pela crise financeira está a perder-se o sentido da vergonha, troca-se a soberania por uma redução da TSU ou por um lote de acções da GALP, troa-se o sentido de Nação por uma conta numa qualquer off-shore.
Deveríamos ter vergonha enquanto portugueses, somos cobardes como nunca fomos, somos subservientes como nunca sucedeu na nossa história, somos demasiado pequeninos para sermos dignos do povo que fomos.