A actual crise do euro tornou evidente a dificuldade da Europa em gerir os interesses em conflito dos seus Estados-membros. Objectivos como a coesão deram lugar a interesses nacionais, a solidariedade deu a vez aos egoísmos nacionais, é cada vez mais o que divide os Estados-membros do que o que os une. Os economistas alemães falam dos países do sul com o mesmo respeito com que os oficiais das SS se referiam aos povos inferiores, os finlandeses referem-se a países como Portugal ou Grécia de forma quase pejorativa, os jornais da especialidade referem-se há muito aos “pigs”.
Sem inimigos externos poderosos nas suas fronteiras, com a Finlândia e os países do Leste livres da URSS, com a Alemanha reunificada a Europa esqueceu-se da sua história e abriu o baú das divergências antigas. Agora são os países do Sul que estarão a mais no euro se não souberem ser competitivos, amanhã regressarão os problemas das fronteiras da Europa Central.
A globalização e um euro desregulamentado levaram a que as economias europeias sejam cada uma por si, que compitam mais no espaço do euro na tentativa de cada uma ficar com a maior parte dos ganhos gerados pela falsa união monetária do que o fazem com as economias concorrentes da Europa. A Alemanha troca as indústrias do Sul por negócios com a China, multiplicam-se os negócios em off-shores dentro do território europeu, os governos tentam ser mais competitivos do que os vizinhos com políticas fiscais agressivas que visam desviar os investimentos.
Nos EUA ninguém ouviu chamar pigs aos Estados federais à beira da falência, ninguém condenou a Califórnia a programas brutais de austeridade, os governos federais não falam em retirar soberania aos que estão em dificuldades. Na Europa é o espectáculo triste a que estamos a assistir, está a destruir-se em meia dúzia de anos o que levou dácadas a construir.