Foto Jumento
Eléctrico "Colinas de Lisboa"
Jumento do dia
Paulo Portas
Paulo Portas revela ou ignorância ou ignorância ao afirmar que o governo está disposto a negociar com o PS a introdução de um limite constitucional à dívida, tanto quanto se sabe a sua maioria governamental não tem poderes constitucionais pelos que mais do que disposto o governo da direita está obrigado.
«O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, disse esta sexta-feira na Alemanha que «a maioria que sustenta» o Governo está disposta a negociar com o PS a introdução na Constituição de limites ao endividamento.
Em conferência de imprensa conjunta em Berlim com o homólogo alemão, e após um encontro de mais de uma hora com Guido Westerwelle, Portas afirmou que o Governo está preparado para discutir com o Partido Socialista medidas sobre os limites ao endividamento.» [Agência Financeira]
«O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, disse esta sexta-feira na Alemanha que «a maioria que sustenta» o Governo está disposta a negociar com o PS a introdução na Constituição de limites ao endividamento.
Em conferência de imprensa conjunta em Berlim com o homólogo alemão, e após um encontro de mais de uma hora com Guido Westerwelle, Portas afirmou que o Governo está preparado para discutir com o Partido Socialista medidas sobre os limites ao endividamento.» [Agência Financeira]
Passos Coelho está bem da coluna?
João Cardoso Roas questiona a postura de Passos Coelho numa fotografia onde aparece ao lado de Merkel, pareceu-lhe uma postura de subserviência. Enfim, talvez esteja a exagerar, deve ser tão difícil ao inglês de Passos Coelho perceber o inglês de Merkel como a qualquer cidadão comum conseguir chegar ao fim de uma frase de Vítor Gaspar sem ter bebido uma mini e comido um pires de tremoços.
Mas a verdade é que desde que Passos Coelho é primeiro ministro que evidencia sinais evidentes de problemas de coluna, olhamos para ele e lembramo-nos do homem estátua de Cronos, carregando o mundo às costas. Por este andar o Macedo ainda vai ter que fazer uma excepção nos cortes das despesas de saúde para endireitar a espinha a Passos Coelho.
Passos na fotografia
«Todos sabem que o primeiro-ministro de Portugal foi à Alemanha visitar a chanceler Merkel e, pelo menos desta vez, não é necessário perguntar qual o conteúdo das conversações.
Basta olhar para as fotografias que nos chegaram pela imprensa - elas dizem tudo. Tenho diante de mim a foto de destaque de um quotidiano generalista e popular. Que vejo? Passos Coelho está inclinado para a frente, quase a fazer uma vénia e com as mãos juntas como numa prece. Olha amedrontadamente para a chanceler, como se estivesse a pedir desculpa por alguma coisa. A chanceler alemã, por seu turno, caminha com desenvoltura, não olha para Passos Coelho, transmitindo uma impressão de enfado e de pressa ou, quando muito, de condescendência em relação à presença do primeiro-ministro.
Uma interpretação possível desta foto seria a seguinte: ela espelha, com objectividade, a posição actual do Estado português diante da Alemanha, desde que esta assumiu a qualidade de líder informal da Europa e dos programas de ajuda aos países periféricos do euro. A postura de subserviência do primeiro-ministro português e a atitude autoritária da chanceler alemã são uma consequência da dependência do nosso país face à ajuda externa e da consciência portuguesa de que essa ajuda depende da vontade da Alemanha. Por isso, fosse qual fosse o primeiro-ministro português (e o chanceler alemão), nada seria muito diferente. Esta interpretação contém certamente alguma verdade, mas está longe de a esgotar.
Uma outra interpretação, aquela que eu prefiro, é a seguinte: a fotografia em causa espelha não uma inevitabilidade, mas antes a posição específica da actual maioria no Governo e do seu líder diante da Alemanha e da Europa. Sendo assim, a postura física de Passos Coelho corresponde a uma atitude psicológica de "servidão voluntária", para usar a famosa expressão de La Boétie, e mesmo a um desejo de auto-punição, correspondente à vontade castigadora dos países centrais do euro em relação aos países do sul. Ao ver Passos Coelho na fotografia recordei-me das declarações, igualmente servis e pueris, de Paulo Rangel quando, diante das críticas de Merkel ao derrube do Governo Sócrates, disse: "a chanceler Merkel quando vir o Governo do PSD vai respirar de alívio".
Se a segunda interpretação é a melhor, ela pode pelo menos ajudar a explicar a ausência de política europeia deste Governo, a vontade de aplicar uma austeridade para além da que nos é pedida e a subalternização das medidas favoráveis ao nosso crescimento, a venda inoportuna das nossas melhores empresas, etc. É claro que há também razões ideológicas - liberais, como se tem dito - para estas opções do Governo. Mas a psicologia dá uma ajuda.» [DE]
Basta olhar para as fotografias que nos chegaram pela imprensa - elas dizem tudo. Tenho diante de mim a foto de destaque de um quotidiano generalista e popular. Que vejo? Passos Coelho está inclinado para a frente, quase a fazer uma vénia e com as mãos juntas como numa prece. Olha amedrontadamente para a chanceler, como se estivesse a pedir desculpa por alguma coisa. A chanceler alemã, por seu turno, caminha com desenvoltura, não olha para Passos Coelho, transmitindo uma impressão de enfado e de pressa ou, quando muito, de condescendência em relação à presença do primeiro-ministro.
Uma interpretação possível desta foto seria a seguinte: ela espelha, com objectividade, a posição actual do Estado português diante da Alemanha, desde que esta assumiu a qualidade de líder informal da Europa e dos programas de ajuda aos países periféricos do euro. A postura de subserviência do primeiro-ministro português e a atitude autoritária da chanceler alemã são uma consequência da dependência do nosso país face à ajuda externa e da consciência portuguesa de que essa ajuda depende da vontade da Alemanha. Por isso, fosse qual fosse o primeiro-ministro português (e o chanceler alemão), nada seria muito diferente. Esta interpretação contém certamente alguma verdade, mas está longe de a esgotar.
Uma outra interpretação, aquela que eu prefiro, é a seguinte: a fotografia em causa espelha não uma inevitabilidade, mas antes a posição específica da actual maioria no Governo e do seu líder diante da Alemanha e da Europa. Sendo assim, a postura física de Passos Coelho corresponde a uma atitude psicológica de "servidão voluntária", para usar a famosa expressão de La Boétie, e mesmo a um desejo de auto-punição, correspondente à vontade castigadora dos países centrais do euro em relação aos países do sul. Ao ver Passos Coelho na fotografia recordei-me das declarações, igualmente servis e pueris, de Paulo Rangel quando, diante das críticas de Merkel ao derrube do Governo Sócrates, disse: "a chanceler Merkel quando vir o Governo do PSD vai respirar de alívio".
Se a segunda interpretação é a melhor, ela pode pelo menos ajudar a explicar a ausência de política europeia deste Governo, a vontade de aplicar uma austeridade para além da que nos é pedida e a subalternização das medidas favoráveis ao nosso crescimento, a venda inoportuna das nossas melhores empresas, etc. É claro que há também razões ideológicas - liberais, como se tem dito - para estas opções do Governo. Mas a psicologia dá uma ajuda.» [DE]
Autor:
João Cardoso Rosas.
Estado de estupor
«Muita gente se tem surpreendido com aquilo que considera ausência de reacção, quer da "rua" quer dos protagonistas partidários e sindicais habituais, às duríssimas medidas do Governo.
Várias explicações têm sido ensaiadas. Que é Verão, que as pessoas estão amodorradas pelo calor, que a generalidade ainda não sentiu o efeito dos cortes e do agravamento dos impostos, que há um sentimento geral de conformismo, resignação e até mea culpa face à austeridade.
Ora estas explicações, se poderiam fazer sentido para a população, não colhem no que respeita aos partidos da oposição nem aos sindicatos, cujas reacções são de uma doçura enternecedora se as compararmos com as evidenciadas face ao Governo PS. Um contraste tanto maior quando em vários casos - o da avaliação de professores sendo o mais escandaloso pela contestação selvática que suscitou antes - as promessas e acções pré-eleições dos partidos do Governo foram completamente invertidas pelo Executivo. O que pode levar Nogueira e companhia a baixar tanto as orelhas? Há alguma coisa que não saibamos (ainda) ou deu-lhes a vergonha, como ao PCP e ao BE, de terem feito pandã com a direita para diabolizar Sócrates e ajudar a colocar no poder o Governo mais determinado a acabar com "as conquistas dos trabalhadores" que vimos desde o 25 de Abril?
Não havia diferença entre PSD e PS, ouviu-se tantas vezes aos dirigentes da chamada "esquerda portuguesa". O PS tinha uma política "neoliberal" que agravava as desigualdades e a pobreza; o PS era inimigo dos trabalhadores e servo do "grande capital"; o PS traiu os portugueses ao negociar com a troika um acordo ruinoso (amanhãs a cantar, ou nada). E muito pior que o PS era esse "objecto mau", esse cúmulo do odioso chamado Sócrates. Sem ele, tudo voltaria a estar bem; sem ele, culpado de todos os males, arquitecto da bancarrota (para a direita) e traidor do proletariado (para a "esquerda"), não haveria mais impostos, nem avaliação de professores, nem corte do abono de família, nem fecho de escolas e centros de saúde nem IVA máximo no leite com chocolate "das crianças"; sem Sócrates, "os mercados" emprestar-nos-iam a juro de amigo, as crises económica mundial e do euro eclipsar-se-iam e não se exigiriam "mais sacrifícios aos portugueses", até porque, como gritou Cavaco na tomada de posse, se tinha chegado ao limite.
Erigido em totem sacrificial, Sócrates, "o mentiroso", foi queimado em auto da fé e o País respirou de alívio. Para se descobrir, semanas depois, com um PM que desdiz - ou melhor, manda desdizer - tudo o que prometeu e se apresta a esbulhar o rendimento do trabalho e a empobrecer os pobres e classe média como nunca até hoje. Que vão chamar-lhe, mentiroso e ladrão? Que vão fazer, encher as ruas de gente vociferante com cartazes insultuosos? Pois. » [DN]
Várias explicações têm sido ensaiadas. Que é Verão, que as pessoas estão amodorradas pelo calor, que a generalidade ainda não sentiu o efeito dos cortes e do agravamento dos impostos, que há um sentimento geral de conformismo, resignação e até mea culpa face à austeridade.
Ora estas explicações, se poderiam fazer sentido para a população, não colhem no que respeita aos partidos da oposição nem aos sindicatos, cujas reacções são de uma doçura enternecedora se as compararmos com as evidenciadas face ao Governo PS. Um contraste tanto maior quando em vários casos - o da avaliação de professores sendo o mais escandaloso pela contestação selvática que suscitou antes - as promessas e acções pré-eleições dos partidos do Governo foram completamente invertidas pelo Executivo. O que pode levar Nogueira e companhia a baixar tanto as orelhas? Há alguma coisa que não saibamos (ainda) ou deu-lhes a vergonha, como ao PCP e ao BE, de terem feito pandã com a direita para diabolizar Sócrates e ajudar a colocar no poder o Governo mais determinado a acabar com "as conquistas dos trabalhadores" que vimos desde o 25 de Abril?
Não havia diferença entre PSD e PS, ouviu-se tantas vezes aos dirigentes da chamada "esquerda portuguesa". O PS tinha uma política "neoliberal" que agravava as desigualdades e a pobreza; o PS era inimigo dos trabalhadores e servo do "grande capital"; o PS traiu os portugueses ao negociar com a troika um acordo ruinoso (amanhãs a cantar, ou nada). E muito pior que o PS era esse "objecto mau", esse cúmulo do odioso chamado Sócrates. Sem ele, tudo voltaria a estar bem; sem ele, culpado de todos os males, arquitecto da bancarrota (para a direita) e traidor do proletariado (para a "esquerda"), não haveria mais impostos, nem avaliação de professores, nem corte do abono de família, nem fecho de escolas e centros de saúde nem IVA máximo no leite com chocolate "das crianças"; sem Sócrates, "os mercados" emprestar-nos-iam a juro de amigo, as crises económica mundial e do euro eclipsar-se-iam e não se exigiriam "mais sacrifícios aos portugueses", até porque, como gritou Cavaco na tomada de posse, se tinha chegado ao limite.
Erigido em totem sacrificial, Sócrates, "o mentiroso", foi queimado em auto da fé e o País respirou de alívio. Para se descobrir, semanas depois, com um PM que desdiz - ou melhor, manda desdizer - tudo o que prometeu e se apresta a esbulhar o rendimento do trabalho e a empobrecer os pobres e classe média como nunca até hoje. Que vão chamar-lhe, mentiroso e ladrão? Que vão fazer, encher as ruas de gente vociferante com cartazes insultuosos? Pois. » [DN]
Autor:
Fernanda Câncio.
Sôr Álvaro, onde andas tu, Super-ministro?
«Caro Sr. Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira,
Peço desculpa! Como não gosta de formalidades - aqui os portugueses são uns retardados, muito tradicionalistas, lá no Canadá é que são muito para a "frentex" - vou reformular o início desta missiva:
Olá, grande Álvaro! Como estás, grande amigo? Muito trabalho aí para os lados do Ministério da Economia? Não te tenho visto nem ouvido ultimamente. Confesso-te que estou surpreendido - no início, diziam que eras o super-ministro: ficaste com o turismo, o trabalho, as empresas, a modernização...enfim, tantas e tão complexas matérias que nem mesmo o Super-homem parecia apto para um desafio desta envergadura. Fiquei tão impressionado que fui adquirir o seu livro intitulado "Portugal: a Hora da Verdade", onde efectua um diagnóstico claro e rigoroso da realidade da economia e das finanças públicas portuguesas. Ainda é mais impressionante se tivermos em conta que a escreveu a partir do Canadá...bem, mas para um super-homem (hoje, super-ministro) tudo é possível! Quem lê o seu livro, chega à conclusão de que o Álvaro é um génio, competente para integrar o governo de Portugal. Que sabe que rumo o país deve seguir. Que será capaz de tomar as medidas necessárias para dinamizar a economia portuguesa. Li que tu, Álvaro, sabes que o futuro de Portugal depende de uma maior aposta na educação e na investigação científica, desempenhando aí o Estado um papel importante na fixação dos "cérebros" no nosso país. Li que tu, Álvaro, sabes perfeitamente que é necessário cortar a despesa inútil, não produtiva do Estado - o que é diferente de apagar completamente o Estado da economia e da sociedade, como tu muito bem explicas no teu bestselller. Li que tu, Álvaro, sendo um liberal que acredita na livre iniciativa e na auto-responsabilidade dos cidadãos, desconfias do poder dos mercados desregulados. Li que tu, Álvaro, sabes que há posições privilegiadas do Estado em sectores prioritárias que devem ser mantidas (à semelhança de mutos países muito mais competitivos que Portugal).
Todavia, Álvaro, desiludes-me. Porque confirmas que uma coisa é escrever livros a partir do Canadá - outra é vir para Portugal aplicar medidas, concretizar ideias. Tu és o rosto que em Portugal os economistas enchem a boca com o liberalismo, com ideias muito liberais das Escolas de Chicago, Harvard, Bruxelas - mas, depois, quando chegam ao governo são socialistas rascos. A solução é sempre a mesma: aumentar impostos. Se essa é sempre a solução para os problemas de Portugal, então, até eu já tenho o curso de Economia. Álvaro, estás no governo ou estás de férias em Portugal? Até o FMI se ir embora? É que parece que és uma sombra de Vítor Gaspar. Parece que tu, Álvaro, és o segundo Ministro das Finanças: a única solução que têm aumentar impostos. Pergunto: tu, Álvaro, concordas com o fim das golden shares em sectores como os transportes, medida defendida tão convictamente por Passos Coelho? Se responderes afirmativamente, então o Álvaro - ministro desmentiu o Álvaro-professor no Canadá...
Por último, Álvaro, seria positivo que convencesses os teus colegas de governo a aplicar as medidas de redução da despesa inútil do Estado. Na minha opinião, o teu governo não sabe o que está a fazer: mesmos os cortes que faz são aleatórios, cegos. Sem uma lógica política clara. Cada ministro anda em roda-livre, faz o que bem lhe apetece. Falta coordenação política. É que quem manda no teu governo, meu caro Álvaro, é o Miguel Relvas, símbolo da partidarização do Estado, da promoção dos boys que tu tanto criticas. Por falar em boys, sôr Álvaro, será que precisa mesmo de 7 chefes de gabinete, 18 adjuntos, 30 assessores, 17 secretárias pessoais e 14 motoristas? Sobre as recentes medidas que o seu governo tomou, falarei desenvolvidamente para a semana. Aqui no Politicoesfera, sôr Álvaro.
Um abraço para ti Álvaro do
João Lemos Esteves» [Expresso]
Peço desculpa! Como não gosta de formalidades - aqui os portugueses são uns retardados, muito tradicionalistas, lá no Canadá é que são muito para a "frentex" - vou reformular o início desta missiva:
Olá, grande Álvaro! Como estás, grande amigo? Muito trabalho aí para os lados do Ministério da Economia? Não te tenho visto nem ouvido ultimamente. Confesso-te que estou surpreendido - no início, diziam que eras o super-ministro: ficaste com o turismo, o trabalho, as empresas, a modernização...enfim, tantas e tão complexas matérias que nem mesmo o Super-homem parecia apto para um desafio desta envergadura. Fiquei tão impressionado que fui adquirir o seu livro intitulado "Portugal: a Hora da Verdade", onde efectua um diagnóstico claro e rigoroso da realidade da economia e das finanças públicas portuguesas. Ainda é mais impressionante se tivermos em conta que a escreveu a partir do Canadá...bem, mas para um super-homem (hoje, super-ministro) tudo é possível! Quem lê o seu livro, chega à conclusão de que o Álvaro é um génio, competente para integrar o governo de Portugal. Que sabe que rumo o país deve seguir. Que será capaz de tomar as medidas necessárias para dinamizar a economia portuguesa. Li que tu, Álvaro, sabes que o futuro de Portugal depende de uma maior aposta na educação e na investigação científica, desempenhando aí o Estado um papel importante na fixação dos "cérebros" no nosso país. Li que tu, Álvaro, sabes perfeitamente que é necessário cortar a despesa inútil, não produtiva do Estado - o que é diferente de apagar completamente o Estado da economia e da sociedade, como tu muito bem explicas no teu bestselller. Li que tu, Álvaro, sendo um liberal que acredita na livre iniciativa e na auto-responsabilidade dos cidadãos, desconfias do poder dos mercados desregulados. Li que tu, Álvaro, sabes que há posições privilegiadas do Estado em sectores prioritárias que devem ser mantidas (à semelhança de mutos países muito mais competitivos que Portugal).
Todavia, Álvaro, desiludes-me. Porque confirmas que uma coisa é escrever livros a partir do Canadá - outra é vir para Portugal aplicar medidas, concretizar ideias. Tu és o rosto que em Portugal os economistas enchem a boca com o liberalismo, com ideias muito liberais das Escolas de Chicago, Harvard, Bruxelas - mas, depois, quando chegam ao governo são socialistas rascos. A solução é sempre a mesma: aumentar impostos. Se essa é sempre a solução para os problemas de Portugal, então, até eu já tenho o curso de Economia. Álvaro, estás no governo ou estás de férias em Portugal? Até o FMI se ir embora? É que parece que és uma sombra de Vítor Gaspar. Parece que tu, Álvaro, és o segundo Ministro das Finanças: a única solução que têm aumentar impostos. Pergunto: tu, Álvaro, concordas com o fim das golden shares em sectores como os transportes, medida defendida tão convictamente por Passos Coelho? Se responderes afirmativamente, então o Álvaro - ministro desmentiu o Álvaro-professor no Canadá...
Por último, Álvaro, seria positivo que convencesses os teus colegas de governo a aplicar as medidas de redução da despesa inútil do Estado. Na minha opinião, o teu governo não sabe o que está a fazer: mesmos os cortes que faz são aleatórios, cegos. Sem uma lógica política clara. Cada ministro anda em roda-livre, faz o que bem lhe apetece. Falta coordenação política. É que quem manda no teu governo, meu caro Álvaro, é o Miguel Relvas, símbolo da partidarização do Estado, da promoção dos boys que tu tanto criticas. Por falar em boys, sôr Álvaro, será que precisa mesmo de 7 chefes de gabinete, 18 adjuntos, 30 assessores, 17 secretárias pessoais e 14 motoristas? Sobre as recentes medidas que o seu governo tomou, falarei desenvolvidamente para a semana. Aqui no Politicoesfera, sôr Álvaro.
Um abraço para ti Álvaro do
João Lemos Esteves» [Expresso]
Autor:
João Lemos Esteves.
Tumultos
«É no mínimo bizarro que o primeiro-ministro de um país pacato ache por bem começar a dissertar sobre tumultos. Será que os deseja? Será que vê neles a melhor desculpa para justificar o fracasso governamental que se adivinha?
Até agora não se ouviu uma única palavra de estímulo ou qualquer ação que contribua para a recuperação da crise. Todos os dias se anunciam aumentos de impostos e cortes, mais a torto do que a direito, num definhamento implacável das condições de vida e de produção. Mas nada que possa de algum modo favorecer a atividade económica e oferecer alguma perspetiva positiva à existência dos portugueses. Rápido a açambarcar receitas, o governo não teve ainda tempo para apresentar um programa de estímulo à economia. Nada.
Há seguramente um fundo ideológico neste comportamento. Esta direita, que se imagina liberal mas na verdade é simplesmente convencida e autoritária, acha que é sua missão pôr ordem na sociedade. Segundo Passos Coelho, os portugueses portaram-se mal anos a fio e agora há que castigá-los. O que, por via de raciocínios simplistas e muita ignorância sobre a natureza das sociedades livres e abertas, significa, no seu entender, diminuir drasticamente a capacidade de reação dos cidadãos e, no fundo, condicionar a livre iniciativa.
Mas, mais do que ideológico, este comportamento deriva de uma aflitiva falta de programa e visão. A crise devia ser aproveitada para fazer três coisas: a) reduzir o peso do Estado e diminuir substancialmente a sua intervenção na vida dos cidadãos e das empresas; b) libertar os meios financeiros para permitir à sociedade desenvolver os seus próprios projetos e empreendimentos, ou seja, diminuindo os impostos e a burocracia, agilizar a justiça, premiar o mérito e a inovação; c) e, mais importante ainda, preparar os portugueses, através da educação e formação, para os desafios da sociedade tecnológica e para os tornar capazes de agir num plano mais vasto e global.
Nada disto está ser feito. Pelo contrário. O constante aumento de impostos retira dinheiro à economia e aos portugueses em geral, dificulta o investimento e gera recessão. Os cortes na educação e, sobretudo, o claro desinteresse e mesma aversão pelas novas tecnologias, resultará numa geração impreparada numa área crucial. A ciência, a inovação e o empreendedorismo desapareceram por completo do discurso político. A última entrada do site do Plano Tecnológico tem a data de Maio.
Quanto às famosas gorduras do Estado ainda ninguém as viu. O ataque tem-se concentrado nas autarquias, as quais, coitadas, estão cada vez mais anoréxicas. Por outro lado, dizer que se corta 10% nos orçamentos dos ministérios pode ser bom nalguns casos, mas noutros é péssimo, porque elimina o já parco investimento público e inviabiliza os projetos de qualificação. Na realidade, essa redução significa, na maioria dos casos, que todo o dinheiro serve para manter a pesada máquina do Estado e resta pouco para benefício da sociedade. Por exemplo, diminuir o investimento no setor do turismo é um erro que se pagará muito caro. É, aliás, perder uma boa oportunidade de valorização do nosso turismo, numa altura em que outros destinos concorrentes enfrentam dificuldades, dadas, aí sim, a agitação social e múltiplos conflitos que proliferam.
Ou seja, se há um claro desejo de reduzir o défice, não se vê o mesmo ímpeto no relançamento da economia. E, sem este, entraremos inevitavelmente no ciclo de menos receita, mais impostos, mais recessão. Não sou eu que o digo, são os mesmos economistas e comentadores que tudo fizeram para eleger este mesmo governo.
Assim, o pânico que se instalou no governo não surpreende. Passos Coelho tem medo dos tumultos, Paulo Portas tem medo das greves. Ambos, cada um à sua maneira, sabem que a direita não tem capacidade de encaixe para a agitação social. Não tem almofada, nem outra resposta que não seja a repressão bruta. O que, como é dos livros, só piora as situações.
O governo precisa urgentemente de encontrar o seu polícia bom. É que, até agora, são todos maus e é cada um a ver se consegue ser pior do que outro.» [Jornal de Negócios]
Até agora não se ouviu uma única palavra de estímulo ou qualquer ação que contribua para a recuperação da crise. Todos os dias se anunciam aumentos de impostos e cortes, mais a torto do que a direito, num definhamento implacável das condições de vida e de produção. Mas nada que possa de algum modo favorecer a atividade económica e oferecer alguma perspetiva positiva à existência dos portugueses. Rápido a açambarcar receitas, o governo não teve ainda tempo para apresentar um programa de estímulo à economia. Nada.
Há seguramente um fundo ideológico neste comportamento. Esta direita, que se imagina liberal mas na verdade é simplesmente convencida e autoritária, acha que é sua missão pôr ordem na sociedade. Segundo Passos Coelho, os portugueses portaram-se mal anos a fio e agora há que castigá-los. O que, por via de raciocínios simplistas e muita ignorância sobre a natureza das sociedades livres e abertas, significa, no seu entender, diminuir drasticamente a capacidade de reação dos cidadãos e, no fundo, condicionar a livre iniciativa.
Mas, mais do que ideológico, este comportamento deriva de uma aflitiva falta de programa e visão. A crise devia ser aproveitada para fazer três coisas: a) reduzir o peso do Estado e diminuir substancialmente a sua intervenção na vida dos cidadãos e das empresas; b) libertar os meios financeiros para permitir à sociedade desenvolver os seus próprios projetos e empreendimentos, ou seja, diminuindo os impostos e a burocracia, agilizar a justiça, premiar o mérito e a inovação; c) e, mais importante ainda, preparar os portugueses, através da educação e formação, para os desafios da sociedade tecnológica e para os tornar capazes de agir num plano mais vasto e global.
Nada disto está ser feito. Pelo contrário. O constante aumento de impostos retira dinheiro à economia e aos portugueses em geral, dificulta o investimento e gera recessão. Os cortes na educação e, sobretudo, o claro desinteresse e mesma aversão pelas novas tecnologias, resultará numa geração impreparada numa área crucial. A ciência, a inovação e o empreendedorismo desapareceram por completo do discurso político. A última entrada do site do Plano Tecnológico tem a data de Maio.
Quanto às famosas gorduras do Estado ainda ninguém as viu. O ataque tem-se concentrado nas autarquias, as quais, coitadas, estão cada vez mais anoréxicas. Por outro lado, dizer que se corta 10% nos orçamentos dos ministérios pode ser bom nalguns casos, mas noutros é péssimo, porque elimina o já parco investimento público e inviabiliza os projetos de qualificação. Na realidade, essa redução significa, na maioria dos casos, que todo o dinheiro serve para manter a pesada máquina do Estado e resta pouco para benefício da sociedade. Por exemplo, diminuir o investimento no setor do turismo é um erro que se pagará muito caro. É, aliás, perder uma boa oportunidade de valorização do nosso turismo, numa altura em que outros destinos concorrentes enfrentam dificuldades, dadas, aí sim, a agitação social e múltiplos conflitos que proliferam.
Ou seja, se há um claro desejo de reduzir o défice, não se vê o mesmo ímpeto no relançamento da economia. E, sem este, entraremos inevitavelmente no ciclo de menos receita, mais impostos, mais recessão. Não sou eu que o digo, são os mesmos economistas e comentadores que tudo fizeram para eleger este mesmo governo.
Assim, o pânico que se instalou no governo não surpreende. Passos Coelho tem medo dos tumultos, Paulo Portas tem medo das greves. Ambos, cada um à sua maneira, sabem que a direita não tem capacidade de encaixe para a agitação social. Não tem almofada, nem outra resposta que não seja a repressão bruta. O que, como é dos livros, só piora as situações.
O governo precisa urgentemente de encontrar o seu polícia bom. É que, até agora, são todos maus e é cada um a ver se consegue ser pior do que outro.» [Jornal de Negócios]
Autor:
Leonel Moura.
Querem ver que foi o Sócrates que os mandou escutar?
«A mesma fonte vai ainda mais longe: "A transcrição dos telefonemas de Silva Carvalho foi executada na altura da campanha eleitoral, quando estava a colaborar no programa do PSD". Ou seja, ainda em Junho, quando o então secretário-geral do PSD e actual ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, adiantou ter recebido uma carta anónima onde se falava da existência de escutas ilegais a dirigentes do PSD.
Relvas apresentou queixa na altura e, já em Julho, depois da vitória do PSD nas eleições de 5 de Junho, a Procuradoria-Geral da República decidiu abrir um inquérito crime ao ocorrido.
Tal como Silva Carvalho, também o actual secretário--geral do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, colaborou no programa eleitoral do PSD, com uma proposta que previa a fusão dos serviços secretos – Serviço de Informações EstratégicAs de Defesa (SIED) e Serviço de Informações de Segurança (SIS) – num só organismo comum. Silva Carvalho pode ainda voltar a ser chamado à Comissão de Assuntos Constitucionais. O presidente da comissão, o social-democrata Fernando Negrão, lembrou que foi Silva Carvalho quem pediu há dois meses para ser ouvido. » [CM]
Relvas apresentou queixa na altura e, já em Julho, depois da vitória do PSD nas eleições de 5 de Junho, a Procuradoria-Geral da República decidiu abrir um inquérito crime ao ocorrido.
Tal como Silva Carvalho, também o actual secretário--geral do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, colaborou no programa eleitoral do PSD, com uma proposta que previa a fusão dos serviços secretos – Serviço de Informações EstratégicAs de Defesa (SIED) e Serviço de Informações de Segurança (SIS) – num só organismo comum. Silva Carvalho pode ainda voltar a ser chamado à Comissão de Assuntos Constitucionais. O presidente da comissão, o social-democrata Fernando Negrão, lembrou que foi Silva Carvalho quem pediu há dois meses para ser ouvido. » [CM]
Parecer:
O que mais impressiona em todo este processo é a promiscuidade.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»