Um modelo económico suicida assente no consumo e na ausência de poupança com o Estado a gastar cada vez mais e a uma parte crescente da riqueza a ser exportada sob a forma de juros teria que resultar em recessão. Temos excelentes estradas mas poucas empresas para as usar, temos excelentes hipermercados mas os consumidores estão tesos, temos uma banca moderna mas sem dinheiro para emprestar.
Não vale a pena culpar este ou aquele governo, todos os partidos produziram discursos alimentando este modelo, tivemos um Presidente que nos ensinou que há mais vida para além do défice e agora temos outro que quando um governo reagiu às dificuldades manifestou o seu sentido da cooperação dizendo que há limites para a austeridade, agora que há mesmo austeridade opta por ficar embevecido com o sorriso de felicidade das vacas da Graciosa enquanto olham para a erva fresca.
O desemprego de empresas inviáveis era inevitável, da mesma forma que a necessária contracção do consumo financiamento pelo endividamento externo, seja por parte do Estado ou dos particulares, resultará no encerramento de empresas que se especializaram em corresponder ao consumo excessivo.
Mas se as políticas de austeridade são inevitáveis isso não implica e que tanto destruam as empresas multiplicadas por um modelo que conduziu o país a um beco de difícil saída como as que são indispensáveis para a retoma do país. Também não implica que se deixe de investir no futuro do país, partindo-se do princípio de que serão as vantagens comparativas da mão-de-obra barata que proporcionarão a retoma sustentada da economia.
Os objectivos de uma política económica são contraditórios e resolver os problemas financeiros do Estado ao mesmo tempo que se minimizam o impacto negativo nos sectores económicos indispensáveis ao futuro do país é um exercício de inteligência.
É esse exercício a que não temos assistido, Vítor Gaspar assumiu a tarefa transcendente de salvar as finanças do país, algo que não é novo. Já o fizemos no passado, o resultado foi um Estado com ouro nos cofres e um país condenado ao subdesenvolvimento, não tinhas vias de comunicação modernas mas eramos um país muito bonito, com estradas ladeadas por magníficos eucaliptos que mataram milhares de portugueses.
Apolítica económica não pode estar condicionada apenas aos objectivos associados à dívida soberana e é por isso que os ministérios das pastas económicas, a Economia e a Agricultura, são importantes. O prolema é que há finanças a mais e economia a menos, o ministro da Economia parece uma personagem saída dos Batanetes e a ministra da Agricultura acha que a coisa vai com quintais cheios das enormes couves-galegas. Compreende-se que no meio empresarial começam a sentir-se sinais de nervosismo, fala-se muita de austeridade e pouco, muito pouco de economia.