Depois de condenar os portugueses a um processo de austeridade reforçado pelo fundamentalismo do seu ministro das Finanças Passos Coelho só tem a saída da coerência, provar aos portugueses que ele e os seus dão o exemplo e que exige de um governo regional do seu partido o mesmo que exigiu do governo da República quando era oposição. No caso da Madeira o dilema de Passos Coelho é óbvio, ou perde o Alberto João ou perde os portugueses, há ainda uma terceira alternativa arriscada, proteger o Alberto João e enganar os portugueses.
Para já é evidente que Passos Coelho tomou posições que nem sequer incomodaram Alberto João Jardim até ficamos com a impressão de que tudo estava combinado entre os dois, uma coisa do género eu digo isto e tu dizes aquilo. O facto de não participar na campanha eleitoral não belisca o Alberto João que nunca precisou de apoios dom continente para ganhar eleições. O que os apoiantes de Alberto João esperam do Continente é o dinheiro e já ouviram o Álvaro dizer no Brasil que se encontraria uma solução e o termo usado pelo governo é o da solidariedade nacional, música para os ouvidos do Alberto João. Até Miguel Relvas já deu a entender que relatórios de auditorias e soluções é coisa que levam tempo, isto é, ficam para depois das eleições.
Mas a mentira tem perna curta e no próximo Natal muitos portugueses vão querer saber se as pendas dos seus filhos foram para o país por causa de um desvio colossal que ninguém demonstrou, ou se vão para o Alberto poder manter uma ilha alimentada a pão-de-ló. Até hoje nem Passos Coelho, nem Vítor Gaspar explicaram o famoso desvio colossal, apenas se ficou a saber que 500 milhões já eram da Madeira. Agora sabe-se que o desvio na Madeira corresponde (coincidência das coincidências) ao valor estimado para o famoso desvio colossal.
Isto é, quando a austeridade chegar a sério muitos portugueses vão ter razões para pensar que foram enganados, que alguém impôs medidas mais duras do que as exigidas pela troika para poder perdoar uma dívida a Alberto João Jardim, colocando os interesses partidários acima dos nacionais. Muitos portugueses poderão legitimamente pensar que quem foi exigente com o anterior governo exigindo transparência nas contas encobre agora os números da Madeira, adia a sua divulgação para depois das eleições e compensa o buraco financeiro da Madeira com falsos desvios nas contas nacionais.
Se assim for Passos Coelho consegue conquistar a simpatia de um Alberto João que sempre se comportou como pobre e mal agradecido, mas perderá os portugueses.