Entre as palavras desvio e colossal aconteceu muita coisa, o pior Presidente da República na história da democracia foi reeleito com o velho argumento de ser um professor mas sem conseguir ensinar a todos os portugueses a receita do enriquecimento, um líder partidário que era contra aumentos de impostos foi eleito primeiro-ministro, o Mário Nogueira transformou-se num comunista transgénico, o Seguro foi eleito e ficou sem referências para a sua vocação como opositor.
Entre as palavra desvio e colossal deixou de existir qualquer limite para a austeridade, o presidente que se dedicou ao roteiro da exclusão esqueceu os discursos e comunicações dramática e agora descobriu os videojogos e entretém-se a brincar à política no Facebook, deixou de exigir o apoio de maiorias alargadas parlamentares para a aprovação de medidas brutais de austeridade, os assessores presidenciais desapareceram da comunicação social, as comunicações de Belém tornaram-se absolutamente seguras.
Entre as palavras desvio e colossal o Mário Nogueira sofreu uma mutação genética ao ser polinizado pela direita, deixou de mobilizar os professores contratados para perseguir o primeiro-ministro em todas as suas aparições públicas, acabaram-se as manifestações espontâneas à porta da sede dos partidos do governo, o despedimento em massa de professores deixou de ser problema, já admite uma avaliação de professores que vai muito além da desejada auto-avaliação.
Entre as palavras desvio e colossal o Francisco Louçã desapareceu, o Jerónimo de Sousa está à beira de se candidatar a um casting para a publicidade dos pudins Boca Doce, o José Seguro não sabe bem a quem se opor agora que o Sócrates lhe fez a vontade, o Nogueira Leite já aceita a eliminação dos benefícios fiscais aos clientes dos hospitais privados, os jornalistas já não se sentem asfixiados.
Entre as palavras desvio e colossal Passos Coelho deixou de pedir desculpa, descobriu que o PC IV não passava de um aperitivo, não eliminou uma das muitas gorduras do Estado, empregou um aparte da JSD, destruiu as expectativas futuras da classe média, preparou o caminho para despedimentos no Estado, retirou os controlos de qualidade nas cantinas sociais, aumentou o número de alunos por turma para poder despedir professores.
A expressão desvio colossal, com ou sem palavras ou factos no meio descreve bem o que se passou em Portugal nos últimos meses, é um desvio de valores, de princípios, de expectativas criadas, de programa político.