Aquilo a que temos assistido e que vamos continuar a assistir enquanto os portugueses o permitirem é a uma pilhagem fiscal da classe média, é como que se uns bárbaros da direita tivessem invadido o país e de seguida pilhassem as famílias da classe média uma a uma. Chamar a isto política económica é uma ofensa às escolas de economia, esta política não tem qualquer objectivo de bem-estar, apenas visa reequilibrar as contas públicas de forma preguiçosa, isto é, sacrificando os do costume.
Até agora não se assistiu a qualquer corte na despesa e a única extinção anunciada não é nenhum dos famosos institutos ou fundações que dão emprego aos oportunistas, são instituições que existem há centenas de anos e cuja extinção ou fusão apenas contribuirá para facilitar a evasão fiscal. Nada se faz contra a evasão fiscal, promove-se o sacrifício fiscal dos que não se podem escapar aos impostos e desestabilização a administração fiscal com um processo de fusão que não poupará mais do que meia dúzia de milões de euros, cem vezes menos do que o desvario orçamental do Alberto João.
Não vale a pena tributar os ricos porque eles fogem, não se eliminam despesas intermédias porque aí está o ganha-pão de muitas empresas que há décadas que vivem da corrupção e alimentam os aparelhos partidários, não se eliminam institutos e fundações inúteis porque dão jeito na hora de empregar as hordas de boys, não se combate a economia paralela porque os sacos azuis das empresas alimentam os sacos azuis dos políticos, resta pilhar a classe média.
Os ricos não estão a ser penalizados? Engana-se a populaça e cria-se um imposto adicional sobre os que ganham mais do que um determinado montante para dar a ilusão de se estarem a sacrificar os mais ricos, para que não se tenham dúvidas até se retiram alguns benefícios fiscais. Cobra-se um imposto adicional durante dois anos sobre a classe média alta e poupa-se o património dos mais abastados, muitos dos quais entregam declarações de rendimentos dignas de indigentes.
O ministro quer reequilibrar as contas rapidamente e a qualquer custo, portanto, não pode esperar pelos resultados da evasão fiscal, não pode esperar um ano pelas receitas do IRC, não pode arriscar em impostos vulneráveis à evasão fiscal numa altura em que está a destruir a administração fiscal, resta-lhe pilhar os do costume e esses são os mais pobres e a classe média é forçada a suportar em dois anos o que poderia ser distribuído por mais tempo e por todos.
Esta pilhagem da classe média terá consequências sociais que um ministro que daqui a dois anos voltará para o seu estatuto privilegiado em Bruxelas ignora ostensivamente, é a classe média que sustenta a economia interna, que fornece os quadros qualificados, que cria as pequenas e médias empresas mais qualificadas, que fornece uma boa parte da inteligência às nossas universidades. Uma boa parte dos filhos dessa classe média já procura as universidades estrangeiras, opta por empregos remunerados de forma mais justa no estrangeiro, agora foi a vez de ser destruída a estabilidade económica dos que por uma questão de idade ou de opção de vida ainda cá estão.
O Vítor Gaspar porque é preguiçoso ou porque não vai cá estar quando se sentirem as consequências da sua política em vez de esperar que as galinhas ponham os ovos optou por as matar, a sua visão limita-se ao horizonte temporal do seu mandato, preocupa-se apenas com o seu currículo e regressar a Bruxelas dizendo que reequilibrou as contas públicas. O problema é que o último que o fez em Portugal foi igualmente tacanho e condenou o desenvolvimento do país.