O governo de Sócrates ficará para a história como aquele que reuniu mais gente na tentativa de o derrubar, nunca um governo foi tão odiado pela esquerda conservadora, foi tão torpedeado pela aliança entre magistrados e jornalistas, tão combatido pelos patrões da comunicação social ou tão rejeitado por alguns grupos corporativos.
Passados pouco mais de dois meses e com as políticas agendadas para os próximos dois anos começa a ser tempo de perguntar a muita gente se está contente, se sente que o seu voto teve resultado. É evidente que muita gente esconde a sua cobardia e mesmo arrependimento atrás do secretismo de voto, se perguntar a muitos professores que fizeram campanha activa contra o governo de Sócrates responder-me-ão agora que o voto é secreto.
Um bom exemplo do sentimento colectivo que começa a ser perceptível, são exactamente os professores começando pelo grande líder da hipocrisia, o sindicalista profissional Mário Nogueira. Quando Sócrates iniciou um programa de encerramento de escolas preocupado com a qualidade de escolas pequenas e sem recursos foi um ai Jesus, veio tudo em defesa da escola pública, agora que essas mesmas escolas foram encerradas com o objectivo de despedir professores o Mário Nogueira apoiou, os autarcas calaram-se e os blogues dos professores assobiaram para o ar.
Quantos professores que dantes eram contra qualquer avaliação e se queixavam do excesso de burocracia estarão agora no desemprego graças ao aumento do número de alunos por turma e da eliminação de algumas áreas curriculares? Pois é, agora vão perder muito mais tempo a preencher fichas de emprego do que dantes perdiam com a tal avaliação que era muito burocrática e, pelos vistos, a escola pública e o Mário Nogueira passa bem sem eles.
Veja-se o silêncio do BE e do PCP, tanto lutaram contra o governo de direita de Sócrates que agora devem estar a festejar a vitória, perante o governo mais à direita que Portugal teve reagem com mansidão, os tais que eram contra a vinda do FMI estão agora satisfeitos com uma política de austeridade bem mais dura do que qualquer programa adoptado pelo FMI ao longo de toda a sua história.
Onde estão os homens da cidadania do PS que tanto ajudaram a direita, onde está o Manuel Maria Carrilho, onde anda a Benavente que tantas vezes ergueu o estandarte da escola pública, onde estão os muitos economistas que eram contra o TGV, onde estão os autarcas que organizavam manifestações contra serviços de saúde arcaicos?
Onde estarão tantos cobardes que gora se refugiam no silêncio com receio de que alguém lhes recorde o que disseram e fizeram há poucos meses atrás?