Os portugueses atribuem muita importância aos governos e muito pouca à oposição, ignoram a importância da oposição quer pela apresentação de alternativas ao poder como de alternativas políticas. A inexistência de uma oposição forte, credível e alternativa tem como consequência a perda de qualidade da democracia, os governos tendem a ser incompetentes e autoritários e a oposição deixa de se pertencer aos políticos da oposição para passar a ser protagonizada por grupos corporativos como os jornalistas.
Passos Coelho não chegou ao poder porque os portugueses viram algum mérito nas suas propostas que, aliás, nem as leram ou conheceram, foram os patrões da comunicação social, sindicalistas de idoneidade questionável e magistrados golpistas que o levaram ao colo até São Bento. Não está em questão o mérito do governo derrubado, o problema é que estes grupos não o questionaram e limitaram-se a agir segundo os seus interesses.
Alberto João não tem magistrados à pernas, aliás, ele usa os mecanismos da justiça para perseguir quem ouse criticá-lo, gasta milhões com o pasquim da sacristia para eliminar o jornalismo livre na Madeira e ainda recebe o sindicalista Mário Nogueira em sessão de beija-mão pré-eleitoral. Na Madeira não há escutas aos amigos do Alberto João, os jornalistas são caniches do poder e até o PCP não se preocupa muito em mandar o Mário Nogueira elogiar o poder autocrático mesmo sabendo que vai perder metade do seu eleitorado.
Apesar dos excessos troikistas de Passos Coelho, da incompetência patética e quase anedótica de ministros como o canadiano u das intervenções hilariantes de Cavaco Silva não se ouve o mais pequeno guinchinho por parte da oposição. O PCP aguarda que os eleitores se esqueçam do seu papel na eleição de Passos Coelho para poder aparecer como o líder da oposição, o BE parece aguardar com ansiedade que Francisco Louçã reencontre o elixir da juventude.
António José Seguro parece estar ainda a fazer oposição a José Seguro e é tão crítico de Passos Coelho quanto deverá ser o próximo da lista de boys a ser colocado num emprego público. Manuela Ferreira Leite questiona as metas orçamentais, Santana Lopes duvida da governabilidade dos ministérios, mas Seguro não tem críticas a fazer ao OE 2012, não lhe ocorre sugestões, não apresenta alternativas, ainda sem conhecer o teor do da proposta governamental já adianta que a probabilidade de o PS não aprovar o orçamento é infinitesimal, por outras palavras, parece que Seguro tem mais a dizer sobre a política orçamental espanhola do que sobre a portuguesa.
Passos Coelho pode ficar contente porque o seu período de graças acompanha a meteorologia pelo que as suas folhas não irão cair tão cedo, o Miguel Relvas pode elogiar os seus bloguistas pelo excelente trabalho de comunicação e o Cavaco pode continuar em busca de novas qualidades nas no gado vacum nacional. Mas a verdade é que o facto de a oposição ser má não torna um governo bom e apesar de o país estar como a Madeira, sem grandes alternativas, mais tarde ou mais cedo sentir-se-á a frustração dos portugueses. E se isso suceder não há reforço orçamental do ministério do Macedo que livre o país da instabilidade política, como dirá nessa ocasião Jerónimo de Sousa a maioria absoluta nas ruas sobrepor-se-á à frágil maioria absoluta no parlamento.