sábado, outubro 15, 2011

A hora dos cobardes

Tentando aparentar a coragem política que não tem evidenciado desde que tomou posse e receando um desastre de comunicação de Vítor Gaspar o primeiro-ministro chamou a si a divulgação (de algumas) das medidas do OE, ao falar verdade assentou a comunicação em mentiras ou meias mentiras. Mas ao tentar exibir coragem Passos Coelho mais não fez do que tentar iludir a sua cobardia, não teve a coragem de assumir o que sempre disse antes de tomar posse, quer pretendia ir muito mais longe do que a troika. Agora que concretizou a sua intenção foi cobarde ao justificar o seu programa digno do Chile de Pinochet com um suposto desvio orçamental no primeiro semestre de 2011.

De António José Seguro nada se sabe, aliás, é isso que sucede desde que chegou à liderança do PS, quando se esperava que não se fosse muito mais longe do que a troika, quando deveria exigir que o governo explicasse de forma cabal os desvios orçamentais usados na estratégia de propagando do governo, cala-se. Seguro continua a fazer oposição a José Sócrates e parece concordar com o governo sempre que este justifica as suas políticas com os resultados do governo anterior. Seguro parece mais empenhado em tentar enterrar definitivamente o seu antecessor do que em fazer oposição ao seu amigo Passos Coelho.

A esquerda que tanto se bateu contra a política de direita de Sócrates terá agora que explicar que esta era a política de esquerda que desejava quando ajudou o PSD e o CDS a chegarem ao poder. Pelo que se tem visto no ensino não é difícil de prever que o PCP vai fazer as manifs da praxe, desta vez sem o apoio logístico das autarquias do PSD e sem a polícia a “invadir” sindicatos. No ensino desapareceram os blogues guerrilheiros do BE e o Mário Nogueira parece mais um adjunto do Miguel Relvas do que um líder sindical e membro do CC do PCP, começou por apoiar todas as medidas de Crato, elogiou a avaliação numa acta que deverá ter valido trinta dinheiros e ainda teve tempo para ir dar uma mão a Alberto João Jardim. Não me admirarei nada se um destes dias virmos a Avoila cumprimentar Passos Coelho com uma vénia.

Cavaco que chamou a si o papel de líder da oposição a Sócrates (e ao país) parece ser agora um batedor da caminhada da austeridade de Passos Coelho, o mesmo grande professor que disse que haviam limites para a austeridade quando esperava que a crise do país o ajudasse a livrar-se do então primeiro-ministro, acha agora que toda a austeridade por mais brutal que seja se justifica e será compreendida pelos portugueses se tiver resultados. Mas já não escreves sobre os resultados desta política nem faz previsões, faz comentários redondos que protegem a sua imagem e quando não sabe como responder aos jornalistas reflecte sobre o sorriso das vacas.

Os jornalistas e donos da comunicação social que chamaram a si o papel de oposição a Sócrates são os únicos a evidenciar coragem, continuam a dar provas de obediência a Miguel Relvas apoiando de forma militante o governo. É uma coragem digna de elogio, quando a recessão se fizer sentir os primeiros a pagar são os jornais e televisões pois a primeira despesa a ser cortada será na publicidade e muitos jornais ficarão nas bancas por vender. Tiveram mais olhos do que barriga mas mercado publicitário em crise o sector enfrentará a maior crise de sempre e alguns jornalista que andaram a exigir o despedimento de funcionários públicos estarão na fila dos desempregados antes de isso suceder ao primeiro funcionário.
 
Como disse D. Januário Torgal Ferreira «esta noite foi uma "noite de jubilo" para os portugueses que votaram neste governo». Para os que votaram e para muitos que não tendo votaram estavam desejando mais a vitória do PSD e do CDS do que do partido em que estavam a votar.