Uma das consequências da adopção por um governo de políticas brutais, injustas e discriminatórios é o estilhaçar de todos os conceitos de cidadania. Porque hei-de ser um cidadão se por ser um profissional deste ou daquele sector, por votar neste ou naquele partido, por ter mais de 65 ou de 70 anos ou por qualquer outra razão escolhida por um ministro que nunca vi e a quem o país pouco deve sou discriminado e condenado à miséria e à total ausência de esperança no futuro? Talvez por trabalhar em Bruxelas o ministro está muito preocupado com a saída do país do Euro ou mesmo da EU, a melhor solução que encontrou foi aplicar a uns quantos as consequências da saída do Euro.
Ora, que obrigações têm os cidadãos deste país escolhidos pelo Vítor Gaspar para regressarem ao nível de rendimentos de 1980, ficarem com estes rendimentos congelados sine die, não poderem ter esperança no futuro e ainda terem de ficar calados não vá o Gaspar optar por os despedir?
A resposta é simples, nenhumas! Não se podem pedir obrigações aos que foram excluídos de direitos tão elementares como a equidade, a igualdade ou o direito a uma remuneração justa.
Se o café da minha esquina estiver entre escapar-se ao IVA ou fechar deverei ser eu a condenar o dono e com os meus bons princípios organizar os seus clientes para lhes exigir a factura? O que ganho com isso? Os trinta dinheiros com que o ministro me quer transformar em bufo do fisco? O prazer de ver os empregados do café no desemprego? Quem me garante que a EDP, a PT, a SONAE ou a Jerónimo Martins não aldrabam as contas para escaparem ao IVA?
Um cidadão que foi reduzido a cidadão de segunda só se for idiota decide empenhar-se nas políticas governamentais quando sabe que os grandes beneficiados serão apenas as classes altas, quando o Estado tiver dinheiro este não servirá pra os recompensar pelos sacrifícios, com este governo todos sabem que servirá para baixar a TSU, o IRC ou para aumentar os subsídios às escolas privadas ou a outros empresários que se tenham empenhado na campanha eleitoral.
Os que não foram excluídos da condição de cidadão pelo Vítor Gaspar que sigam as suas ideias, que se empenhem na recuperação do país, que ouçam os discursos de Cavaco. Aos que foram escolhidos para serem sacrificados pelo Vítor Gaspar pouco interessa saber se o país recupera, se cresce ou não, se o IA ou IMT sobe ou desde, esses estão condenados aos cortes e ao congelamento dos seus rendimentos por melhores profissionais que sejam, estão excluídos dos benefícios do congelamento económico e dificilmente estarão a equacionar a hipótese de comprar carro ou casa. O seu empenho pelo país fica-se pela selecção nacional ou pelos jogos da Liga dos Campeões.
O resultado desta política do Vítor Gaspar é a destruição de valores, a destruição do sentimento de nação em muitos portugueses e a indiferença em relação à evasão fiscal e a muitas formas de ilegalidade. Com estas políticas a economia paralela quase merece o estatuto politico de área libertada, nela não se aturam as idiotices do Álvaro Batanete, os abusos do Gaspar ou as manipulações eleitorais do Coelho, na economia paralela reina o mercado sem interferência de gente sem grandes valores. Além disso, o único sector da economia que vai de encontro aos princípios liberais do Gaspar e do Batanete é precisamente a economia paralela.