À falta de qualquer outro mérito, o governo de direita de Pedro Passos Coelho tem o de acabar com alguma podridão ideológica em que o país tem vivido, com a direita armada em esquerda, a esquerda acusada de ser direita e a extrema-esquerda com ares de poder governar o capitalismo. Se as eleições mostraram a inutilidade da esquerda conservadora na hora de governar o país, tendo mesmo chegado ao ponto de fazer de vanguarda da direita na luta desta por chegar ao poder, pela primeira vez um governo de direita governa sem complexos de esquerda. Para que tudo parecesse perfeito só faltaria o PSD deixar uma designação que o transforma em travesti ideológico e adoptar uma designação compatível com os seus princípios, por exemplo, partido conservador ou aliança popular.
Pela primeira vez a direita governa sem complexos de esquerda, assume claramente uma política que sacrifica os pobres e protege os ricos, tem um ministro da Saúde que não é adepto do SNS, um ministro da Educação que subsidia turmas no privado com uma dúzia de alunos e exige que as do público cheguem aos trinta, um ministro dos Assuntos Sociais que adopta a caridade como objectivo político, um ministro da Economia tão avesso à intervenção do Estado na Economia que parece ter ocupado a pasta com o objectivo de não fazer nada.
Finalmente os portugueses têm a oportunidade de conhecer um governo de direita que governa mesmo à direita, que em vez de dialogar avisa contra tumultos e que adopta como única excepção à austeridade o financiamento das polícias, necessárias para reprimir os tumultos receados pelo primeiro-ministro.
Até a esquerda conservadora vai ter a oportunidade de mostrar que luta contra as políticas de direita, ainda que até ao momento tenha tido um papel quase vergonhoso, o sindicalista que todos os dias fazia esperas falsamente espontâneas a Sócrates agora cumprimenta Passos Coelho com uma vénia.
Os eleitores portugueses desconhecem o que é uma política de direita, os governos de Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Durão Barroso, e Santana Lopes não o foram de uma forma clara, nenhum deles questionou o SNS, a escola pública ou direitos constitucionalmente estabelecidos. Com Passos Coelho o país tem o primeiro governo de direita eleito em democracia, um governo bem mais à direita do que os governos da direita espanhola ou mesmo das novas direitas dos países de Leste.