Numa das poucas vezes que visitei a Madeira viajei num das grandes auto-estradas gratuitas daquela região autónoma, ligava o Funchal a uma terreola que no resto do país beneficiaria do acesso por uma estrada municipal e quase todo o troço era feito de pontes e túneis. Comentando o absurdo da situação respondeu-me um madeirense, alto responsável do fisco local, que no continente a corrupção era tanta que aquela auto-estrada tinha ficado mais barata do que a que liga Lisboa ao Algarve e que atravessa uma planície.
É assim que pensam muitos madeirenses, são mais de trinta anos de um esquema de dinheiro fácil, de dependência dos favores públicos e de chantagens e ofensas ao país a troco de dinheiro. A verdade é que são mais de trinta anos de propaganda, de restrição das actividades políticas da oposição, do silenciamento das vozes críticas do regime, de envolvimento da igreja católica no apoio ao poder e de controlo da educação. Todos os madeirenses com menos de 40 anos só conheceram escolas controladas pelo governo regional.
Os madeirenses têm direito à autonomia, se forem corajosos até podem exigir a independência pois uma boa parte dos portugueses não se irá manifestar contra e serão muitos os que até a apoiarão. O que os portugueses não querem, como sucede com qualquer família, é gente que cá está a troco de interesses e chantagens. Se no seio de uma família comum um dos irmãos se comportasse como a Madeira se tem comportado em relação ao país o mais provável é que os outros irmãos o tivessem atirado pela janela.
Poderão dizer que os povos são sempre bondosos e a culpa é dos senhores dos sifões de retrete, mas não partilho do conceito politicamente correcto de que os povos são sempre sábios e bondosos, pertencendo a culpa aos seus responsáveis. A história dá-nos exemplos de povos canalhas. No caso da Madeira o Alberto João, um político grotesco como se viu na noite eleitoral, já ganhou 45 eleições com maioria absoluta e mesmo quando se sabe que se comportou de forma criminosa recebeu o voto de metade dos madeirenses.
Devemos respeitar a vontade de tão grande maioria e dizer aos madeirenses que os portugueses estão tão solidários com os seus valores autonómicos e independentistas que acham que devem ser eles a suportar os desvarios financeiros de que beneficiaram.