quinta-feira, outubro 13, 2011

Ele não pediu desculpa

Por muito menos Passos Coelho pediu desculpa quando decidiu abster-se na votação do Orçamento de Estado para 2011, agora não só mantém tudo aquilo pelo que pediu desculpa e pelo que entretanto adoptou sem que tenha tido tal gesto como adopta medidas brutais invocando contas alheiras e recorrendo à mentira.

Justificar a brutalidade das medidas não previstas no acordo com a troika no desvio orçamental no primeiro semestre de 2012 é uma mentira mais do que óbvia, para além de durante o discurso ter culpado o governo anterior pela totalidade desse desvio, ignorando ostensivamente a responsabilidade do governo regional da Madeira. Passos Coelho falou nos últimos anos, falou no governo anterior, mas omitiu as responsabilidades directas do seu próprio partido.

Mas alguém acredita que os subsídios de férias dos funcionários públicos e dos pensionistas se destinam a cobrir o tal desvio colossal do primeiro semestre de 2012 que ainda hoje não foi bem explicado? É evidente que estamos perante uma mentira colossal para justificar uma política excessiva de um falcão do ministério das Finanças e de um primeiro-ministro que não percebe nada de política económica e que desde o princípio disse querer ser mais troikista do que a troika.

O país também ficou a saber que o principal tema de discussão durante a campanha eleitoral era uma mentira, a TSU fica na mesma porque como sempre se disse era inviável. Só que agora sabemos que a redução brutal e desnecessária da TSU que tanto animou Passos Coelho não passava de uma brincadeira de um técnico do FMI que achava que podia usar Portugal para fazer uma experiência de política económica. O Gaspar terá concordado e o Passos Coelho concordou, agora recuou e decidiu-se à pressa por um aumento do horário de trabalho que Daniel Bessa defendeu ontem.

Portugal corre um risco sério de entrar numa espiral de recessão, mas isso não preocupa nem o Gaspar que tem emprego em Bruxelas, nem Passos Coelho que conta com o patrocínio de Ângelo Correia. O mesmo não poderão dizer os muitos milhares de portugueses que conhecerão o desemprego em 2012 e em 2013 e que serão muitos mais do que algumas vez alguém imaginou.

Gaspar e Passos Coelho ignoraram o que até as agências de rating têm vindo a dizer, que o problema português é o crescimento económico e perante o cenário de uma recessão brutal é muito provável que em vez de o país recuperar a credibilidade externa. Um país sem expectativas de recuperação económica e à beira de uma recessão brutal nunca poderá pagar a sua dívida externa. Talvez por isso mesmo Pedro Passos Coelho se esqueceu de rever a projecção para a contracção económica em 2,5%, número em que já ninguém acredita.

Mas os portugueses podem estar felizes, podem continuar a comprar Quinta da Bacalhoa e Pera Manca com iva reduzido e em ano eleitoral poderão ir em peregrinação a agradecer a São Bento por passarm a receber subsídio de férias e subsídio de Natal.