Sempre que vou à terra e ligo a rádio ou sintonizo a televisão espanhola ouço logo falar do mais famoso presunto espanhol, bem mais famoso do que o “pata negra” é o presunto assassino, dia sim, dia não é notícia. Nós por cá também já tínhamos o pata negra mas parece que agora também temos um desses famosos presuntos. Os mais puritanos dirão que deveria ser antes uma alheira transmontana assassina, sendo de Miranda até seria de imaginar que teria morto à paulitada. Mas prefiro o presunto.
Pois o nosso presunto assassino não é um presunto qualquer, é um dos príncipes do cavaquismo e um dos principais case study do enriquecimento rápido, o homem nasceu um pobretanas e em poucos anos já geminava dois apartamentos do Edifício Valmor, que na época era o mais luxuoso do Lisboa, mas para proteger as aparências apresentava-se nas reuniões do condomínio em representação de uma prima que se dizia dona de um dos apartamentos.
Quem deve ser muito pouco apreciador das fatia deste presunto é Cavaco Silva, em relação à inocência de Dias Loureiro ainda veio a público meter as mãos no lume, ninguém sabe se ficaram escaldadas mas o certo é que desde então o ex-conselheiro vai aparecendo cada vez mais e já faltou mais para vir dizer que a culpa do BPN foi do Vítor Constâncio. Não é difícil imaginar que na lareira de Belém não está pendurado nenhum presunto, ainda que os brasileiros queiram seguir-nos a tradições e andem doidinhos por pendurar o nosso presunto assassino. Na lareira de Belém é mais provável que pendurem alhos, sempre se combate o azar (e a azia ao Coelho à casa) e de vez em quando dá jeito para acompanhar os carapaus alimados da Dona Maria.
Nos próximos dia falaremos muito de presunto, os que no tempo do processos Casa Pia, Freeport ou Face Oculta nunca permitiram uma entrada de presunto e passavam logo ao prato principal, não se vão agora cansar de exigir que antes de mais se sirva o presunto. Sócrates nunca teve direito a ser um presunto corrupto, era só corrupto, o mesmo sucedendo com todos os suspeitos, naturais ou artificiais, daqueles processos. Mas agora que está em causa um príncipe do cavaquismo, um caso de sucesso da direita portuguesa que até sabe tocar piano, eis que os mesmos que fizeram sucessivos julgamentos na praça pública vão agora defender que o seu menino não é assassino mas sim um presunto assassino, o que é uma coisa bem diferente.
Enfim, à falta de melhor e com os disparates do Batanete da Rua da Horta Seca resta-nos a esperança de resolver as contas externas concorrendo com a Espanha exportando presuntos assassinos, o que não poderá ser o caso do nosso presunto mirandês pois como se sabe os brasileiros já o compraram, só estão à espera que a Interpol o apanhe.
PS: Para os mais alérgicos à língua castelhana esclarece-se que em português presunto traduz-se para presumível, uma palavra que desapareceu na justiça portuguesa nos seus últimos grandes processos.