Pobres madeirenses, pobres os que gostariam de viver em democracia mas como não se sujeitaram aos ditames dos vendedores de sifões de retrete foram forçados a viver num gueto, pobres os que continuaram miseráveis depois de irem beber ponchas a todas as festarolas organizadas pelo Alberto e agora continuam tão pobres como eram e ainda vão ter de pagar a despesa da festa, pobres de espírito os que se venderam e a troco de um tacho ou um mero lugar no funcionalismos se metamorfosearam em canídeos, pobres os que pensavam que o esquema era interno e agora estão confinados a uma ilha de ontem terão vergonha de sair.
Pobres também dos políticos nacionais que ao longo de três décadas elogiaram a obra do Alberto, que foram às festas na Lagoa de Chã da Ladeira onde de chapéu de palha se embebedavam com ponchas enquanto o Alberto os exibia como caniches a que ajudava a comer na capital, pobres dos presidentes que não tiveram a coragem de denunciar uma situação intolerável, pobres dos políticos que não tiveram a coragem do o criticar olhando-o nos olhos e em vez disso o elogiaram cobardemente, pobres dos primeiros-ministros que se sujeitaram à sua chantagem.
Muito provavelmente o Alberto renovará a maioria absoluta e como é prática aqui no Continente vai exibi-la como prova da sua inocência, como um veredicto de valor jurídico superior ao dos tribunais, o regime madeirense vai sobreviver penosamente durante mais algum tempo. Mas mesmo em vésperas de umas eleições em que os corruptos, os jornalistas poucos dignos desse nome, os proxenetas do dinheiro dos contribuintes, os párocos e todos aqueles que estão envolvidos no regime madeirense vão ajudar o Alberto a vencer é evidente que o Alberto é um derrotado, vence o presente mas já venceu o futuro. É um político morto que por causa da fragilidade da democracia ficou por enterrar.
Não voltaremos a ver o Alberto inchado nos congressos do PSD com os candidatos à liderança aguardando ansiosamente pela sua bênção enquanto dos delegados ovacionavam o absurdo grotesco da Madeira quase até à histeria. Não voltaremos a ver políticos supostamente responsáveis a elogiar a grande obra madeirense. Para aqueles que o bajulavam vai passar a ser sarna, pelo menos neste caso a cobardia e falta de dignidade que grassa nas nossas elites terá um efeito positivo.
O país vai herdar muito mais do que uma dívida feita às escondidas, a Madeira tem um modelo económico falido, um fisco nas mãos de um poder que actua sem limites e em seu benefício, uma estrutura social típica daquelas que são herdadas das ditaduras, com as elites locais fortemente comprometidas no passado.
O Alberto João é um cadáver político que sabe que a seu tempo verá o seu funeral agendado, mas ao contrário de outros que fugiram, resignaram ou se suicidaram num bunker a vinte metro do solo o Alberto vai poder continuar no poder durante algum tempo, ainda vai a tempo de construir a obra do regime a que dará o seu nome mesmo sabendo que uns tempos depois o povo que o aplaudiu lhe vai mudar a designação, será a Ponte 25 de Abril de lá do sítio.