Perdido o crédito adquirido inicialmente o ministro das
Finanças estava em queda livre, a sua imagem como político ou como economista
estaria no lixo se fosse objecto de notação por parte de alguma agência.
Enfrentando uma crise de credibilidade pessoal o ministro percebeu que o
governo não estava melhor, Passos Coelho não tem qualquer credibilidade, os
portugueses perceberam que o falso relatório do FMI não passava de um embuste
para viabilizar as suas ideias ultra conservadoras e com uma coligação colada
com cuspo restava uma grande encenação.
Com a Espanha a ir aos mercados sem precisar de qualquer intervenção
ou autorização de um qualquer Salassie e garantido o segundo resgate da troika
Vítor Gaspar percebeu que podia enganar os portugueses com uma falsa operação
de ida aos mercados. Com a dívida reescalonada os investidores não correm
riscos e não resistiram à tentação de ganhar quase 5% ao ano, mais do que
Portugal paga à troika.
Mas a grande corrida ao mercado de que Vítor Gaspar devia
orgulhar-se não é esta encenação montada na semana passada, é uma verdadeira
corrida ao mercado que não conta com o apoio de banqueiros arguidos em processos
fraudulentos e que ocorre todos os dias, sem conferências de imprensa do Simon O’Connor
ou com o apoio do Comissário. Todos os dias milhares de jovens portugueses vão
ao mercado de mão-de-obra em países estrangeiros.
Não são serventes da construção civil ou agricultores vítimas
dos excedentes de população rural, são médicos, engenheiros, enfermeiros,
arquitectos, são os melhores da nossa juventude, em que as famílias e o país
investiram muito e a quem lhes é recusada a oportunidade de que Gaspar tanto se
gabou, de servirem o seu país retribuindo o que tanto lhes deram.
Não são necessariamente desempregados, os jovens à rasca que
montaram uma mega manifestação contra Sócrates e que agora parecem
milagrosamente desenrascados. Não são licenciados em ciências ocultas em
universidades duvidosas ou portadores de diplomas impressos em papel higiénico,
são jovens qualificados com cursos reconhecidos no estrangeiro, são bons quadros,
muitos deles com passagem por centros de investigação.
Não partem a salto, não vão com visto de turismo, negociaram
as condições em trocas de email, participaram em entrevistas em teleconferência,
discutiram as condições e partem porque as empresas dos países mais ricos
descobriram um país onde um governo quer proletarizar os seus cérebros
pagando-lhes pouco mais do que o equivalente ao rendimento mínimo num Reino
Unido ou numa Alemanha.
Não é da encenação que montou que o ministro deve estar
orgulhoso, a grande corrida aos mercados merecedora de elogios é a dos jovens
portugueses, eles vão ao mercado sem cunhas, sem o apoio do BCE, sem vários
bancos a garantir-lhe o sucesso profissional. Vão ao mercado com as suas
habilitações, mostram o que valem e fazem-no para fugirem de gente cujo sucesso
não p+assa de encenações e que decidiram empobrecer os portugueses à força,
reduzindo-lhes os vencimentos ou apropriando-se abusivamente dos salários através
de aplicação de impostos brutais.