A ida de Gaspar ao mercado está para
o financiamento da dívida portuguesa como a brincadeira de crianças aos papás e
às mamãs está para a taxa da natalidade., não passa de uma brincadeira de faz
de conta. Só que Gaspar quer fazer passar a ideia de que poderá ir aos mercados
se os portugueses aceitarem todas as suas políticas, isto é, tornar definitivo
o empobrecimento de todos os portugueses que dependem de um salário e permitir
a eliminação do Estado Social reduzindo-o às funções policiais, à caridade e a
um sistema de saúde que vise apenas impedir a proliferação de epidemias que
possam surgir nos meios mais pobres, um pouco como a antiga rede de
dispensários.
Esta intenção de Gaspar tornou-se
evidente quando a primeira entidade a vir a público elogiando a operação e
chamando a atenção para a necessidade de prosseguir na política do Gaspar foi
precisamente o tal Simon O’Connor que nunca se percebe muito bem se está
falando em nome do comissário ou fazendo um frete ao Gaspar.
A verdade é que da mesmas forma
que as crianças não fazem meninos quando brincam também o Gaspar não resolveu
qualquer problema e os grandes beneficiários da operação foi a banca, as suas
acções subiram e ainda puderam comprar dívida com juro de quase 5% tendo-se
financiado com juros de 1%. Não admira que tenham sido os primeiros a vir a
público tecer grandes elogios.
Em dois dias o Gaspar fez uma brincadeira
nos mercados a coberto da iniciativa da Espanha e com a ajuda das muletas do
BCE e os portugueses em vez de estarem a discutir o segundo resgate estão sendo
embalados com uma manobra que mais do que financeira foi pura propaganda. Se
Portugal já consegue ir aos mercados financiar-se por taxas próximas das
praticadas pela troika e a tendência é para melhorar, então porque razão no dia
anterior o mesmo Gaspar pediu ao Eurogrupo o prolongamento da dívida, isso
tempos depois de ter obtido um adiamento do prazo para cumprir o défice.
Vítor Gaspar passa a mensagem de
que quer libertar o país da troika indo brincar aos papás e às mamãs nos mercados
financeiros, mas por trás e sem qualquer debate ou sem que ninguém seja ouvido
vai a Bruxelas prolongar todos os prazos, forçando o país a assumir
compromissos muito para além do fim da legislatura.
Ao forçar o país a compromissos
para um prazo que vai muito para além do mandato deste governo e ao promover
uma reforma do Estado com base num relatório que mandou o FMI assinar e faz
questão de ignorar quaisquer valores constitucionais, Vítor Gaspar pretende
governar sem regras. Gaspar não foi ao mercado buscar dinheiro, foi ao mercado
buscar a legitimidade financeira que na sua opinião se sobrepõe e deve fazer
soçobrar a legitimidade democrática.
Com as calças do BCE o Gaspar até
pareceu um grande ministro das Finanças, mas a verdade é que o mercado de que
Portugal precisa não é o falso mercado financeiro, é o mercado mundial para as
nossas exportações, o mercado da construção para salvar a nossa construção
civil e o mercado interno para salvar milhares de empresas à beira da falência.
E quanto a esse mercado parece que o Gaspar sofre de alergia, talvez porque o
seu amigo O’Connor não se mete nesses assunto. Resta-nos o Álvaro, ao menos
esse fala de mercados, de concertação social e de crescimento económico.
PS: Parece que o José Seguro
perdeu duas oportunidades, uma de ficar calado e a outra de dizer alguma coisa
de jeito. Optou por dizer banalidades e com declarações como esta ou como as
opiniões pessoais de pares como um tal Beleza o PS arrisca-se a nunca mais
passar dos 34% de intenções de votos.