sexta-feira, janeiro 04, 2013

O petroleiro


Um dos maiores erros dos nossos políticos é pensarem que se consegue inverter os ciclos da economia com bitaites, os ministros tendem a pensar que são pessoas muito importantes que banqueiros e investidores ouvem com grande ansiedade. A verdade é que um Passos Coelho não é uma Merkel, talvez seja um Bardamerkel, um grande primeiro-ministro atrai grandes investidores, um pequeno primeiro-ministro recebe telefonemas de pequenos banqueiros a meterem cunhas para serem envolvidos de negócios onde se recebem comissões.
  
De nada vale a Gaspar prometer crescimento no segundo semestre de 2013, ele sabe muito bem que não havia qualquer relação entre o aumento das exportações e o seu ajustamento brutal, que o aumento forçado da poupança não se traduz em investimento e que os investidores não confundem salários competitivos com escravos à beira de uma revolta. Este ano será tão mau ou pior do que 2014, a dívida soberana continuará a crescer de forma exponencial, a gangrena no tecido económico não sarará, o desemprego continuará a aumentar, o aumento das taxas de IRS não se traduzirá num aumento equivalente na receita fiscal, o défice continuará fora de controlo.
  
Portugal tem um governo em que os portugueses não acreditam, tem um primeiro-ministro sem habilitações ou capacidade para o desempenho do cargo, tem um ministro das Finanças que falhou e não admite os seus erros, tem uma coligação presa por arames e, como se tudo isto fosse pouco, tem um Presidente da República que todos querem ver pelas costas. Nestas condições só um investidor louco aposta.
  
Veja-se quem apostou nas privatizações portuguesas, o Partido Comunista da China, um investidor sul americano de quem se diz que se esqueceu de apresentar garantias e uma empresa que tem um aeroporto no Camboja. Diz-se que há um problema de financiamento da economia portuguesa, mas é pior do que isso, esse é um problema de financiamento da tesouraria, para além disso não há investimento, de vez em quando faz-se uma inauguraçãozita mas isso são sobras do José Sócrates a que o Paulo Portas gota de comparecer para exibir os brilhantes resultados da sua diplomacia económica.
  
A economia portuguesa é um petroleiro que os timoneiros malucos deste governo aceleraram em direcção ao cais e agora tentam inverter a marcha soprando para a proa. Gente irresponsável tem conduzido uma economia como se isto fosse um bote e agora percebem que o curso dos acontecimentos é irreversível. Passos Coelho disse que se estava lixando para as eleições e estava mesmo, estava-se lixando para as eleições, para o país e para os portugueses, colocou a economia portuguesa numa trajectória de desgraça que agora não conseguirá inverter.
  
Bem podem alterar o código do IRC financiando a descida este imposto com o IRS com com propinas no ensino básico, tal como já quiseram financiar a TSU à custa dos trabalhadores. Levarão uns meses para concluir os trabalhos do grupo de trabalho, mais uns meses para corrigir os excessos propostos pelo representante do patronato (que vai propor que o IRC deixe de ser um imposto para passar a ser um subsídio financiado pela refundação do Estado), mais uns tempos para que se aprove e só depois o Paulo Portas em o Miguel Relvas vão gastar uns milhões em viagens para fazerem a tal diplomacia económica. Mesmo que tudo corra bem um investimento resultante deste novo código produzirá o primeiro parafuso daqui por uns cinco anos, muito depois de o Passos Coelho ter regressado ao conforto das empresas do Ângelo Correia.
  
O petroleiro vai bater mesmo no cais e afundar-se, na ponte estão dois artistas, o Passos e o Gaspar, que fazem lembrar Francesco Schettino, o comandante do Costa Concordia, e a sua namorada romena, o primeiro perdeu-se de amores pelo segundo e Portugal naufragou.