Um dos maiores erros dos nossos políticos é pensarem que se
consegue inverter os ciclos da economia com bitaites, os ministros tendem a
pensar que são pessoas muito importantes que banqueiros e investidores ouvem
com grande ansiedade. A verdade é que um Passos Coelho não é uma Merkel, talvez
seja um Bardamerkel, um grande primeiro-ministro atrai grandes investidores, um
pequeno primeiro-ministro recebe telefonemas de pequenos banqueiros a meterem
cunhas para serem envolvidos de negócios onde se recebem comissões.
De nada vale a Gaspar prometer crescimento no segundo
semestre de 2013, ele sabe muito bem que não havia qualquer relação entre o
aumento das exportações e o seu ajustamento brutal, que o aumento forçado da
poupança não se traduz em investimento e que os investidores não confundem
salários competitivos com escravos à beira de uma revolta. Este ano será tão
mau ou pior do que 2014, a dívida soberana continuará a crescer de forma
exponencial, a gangrena no tecido económico não sarará, o desemprego continuará
a aumentar, o aumento das taxas de IRS não se traduzirá num aumento equivalente
na receita fiscal, o défice continuará fora de controlo.
Portugal tem um governo em que os portugueses não acreditam,
tem um primeiro-ministro sem habilitações ou capacidade para o desempenho do
cargo, tem um ministro das Finanças que falhou e não admite os seus erros, tem
uma coligação presa por arames e, como se tudo isto fosse pouco, tem um
Presidente da República que todos querem ver pelas costas. Nestas condições só
um investidor louco aposta.
Veja-se quem apostou nas privatizações portuguesas, o
Partido Comunista da China, um investidor sul americano de quem se diz que se
esqueceu de apresentar garantias e uma empresa que tem um aeroporto no Camboja.
Diz-se que há um problema de financiamento da economia portuguesa, mas é pior
do que isso, esse é um problema de financiamento da tesouraria, para além disso
não há investimento, de vez em quando faz-se uma inauguraçãozita mas isso são
sobras do José Sócrates a que o Paulo Portas gota de comparecer para exibir os
brilhantes resultados da sua diplomacia económica.
A economia portuguesa é um petroleiro que os timoneiros
malucos deste governo aceleraram em direcção ao cais e agora tentam inverter a
marcha soprando para a proa. Gente irresponsável tem conduzido uma economia
como se isto fosse um bote e agora percebem que o curso dos acontecimentos é irreversível.
Passos Coelho disse que se estava lixando para as eleições e estava mesmo,
estava-se lixando para as eleições, para o país e para os portugueses, colocou
a economia portuguesa numa trajectória de desgraça que agora não conseguirá
inverter.
Bem podem alterar o código do IRC financiando a descida este
imposto com o IRS com com propinas no ensino básico, tal como já quiseram
financiar a TSU à custa dos trabalhadores. Levarão uns meses para concluir os
trabalhos do grupo de trabalho, mais uns meses para corrigir os excessos
propostos pelo representante do patronato (que vai propor que o IRC deixe de
ser um imposto para passar a ser um subsídio financiado pela refundação do
Estado), mais uns tempos para que se aprove e só depois o Paulo Portas em o Miguel
Relvas vão gastar uns milhões em viagens para fazerem a tal diplomacia
económica. Mesmo que tudo corra bem um investimento resultante deste novo
código produzirá o primeiro parafuso daqui por uns cinco anos, muito depois de
o Passos Coelho ter regressado ao conforto das empresas do Ângelo Correia.
O petroleiro vai bater mesmo no cais e afundar-se, na ponte
estão dois artistas, o Passos e o Gaspar, que fazem lembrar Francesco Schettino,
o comandante do Costa Concordia, e a sua namorada romena, o primeiro perdeu-se
de amores pelo segundo e Portugal naufragou.