segunda-feira, janeiro 28, 2013

O Baltazar, os xulos e a mirra


Anda por aí uma grande polémica porque o líder da CGTP  ter-se-á referido ao representante do FMI como o rei mago mais escurinho. Como este é um país onde nunca existiu o racismo, aliás, sempre fomos exemplares nessa matéria, anda tudo por aí indignado com o sindicalista.

Pelo menos enquanto o papa não lhes der o destino do burro e da vaca continuarão a aparecer três reis magos no presépio e um deles é de pele mais escura, muito provavelmente representava um rei de uma região próxima da Palestina. O Baltazar poderia muito bem chamar-se Salassie, aliás, o último imperador da Etiópia, país onde nasceu o funcionário da Lagarde, chamava-se precisamente Salassie, era um pouco mais magrinho do que o nosso mas igualmente de pele escura.

Por aqui há muito que a consideração pelo funcionário do FMI não é das melhores, quando o seu colega foi destacado para impor a sua incompetência aos gregos, o Salassie até foi simpático nas suas entrevistas, menos arrogante do que o seu antecessor e com uma abordagem mais humana dos problemas e da crise. Talvez influenciado pelos Moedas e outros trocos locais o Salassie mudou o discurso, chegando ao ponto de roçar o ofensivo.
  
Onde estavam os que agora estão muito incomodados com o suposto racismo do líder da CGTP quando o Salassie disse que se os portugueses queriam um Estado Social teriam de ter dinheiro para o pagar? Então este senhor chama xulos a todo um povo, ignora  todo o dinheiro roubado aos fundos comunitários e aos cofres do Estado através da evasão fiscal para insinuar que os portugueses são uns malandros que querem viver à custa dos alemães e todos ficaram calados?
  
Não admira o silêncio, os ideólogos da direita portuguesa que nunca se lembraram de tão brilhante argumento passaram a usá-lo e basta ler os artigos de opiniões dos jornalistas mais bajuladores da área económica para que encontremos esta falsa ideia repetida até à exaustão. Se alguém se tivesse lembrado de que havia um rei mago chamado Gaspar e se o ministro fosse referido por amarelinho alguém se queixava? É óbvio que não, o ministro vai pouco à praia e com as luzes dos gabinetes até anda um pouco amarelado.
  
Mas no caso do Salassie já não se podem fazer Referência à cor da pele e se for feita uma comparação do nome com o dos reis Magos terá de ser o Melchior e não o Baltazar. O Melchior era o descendente de Caim que representava a raça branca e até foi o rei mago que ofereceu o ouro. O Baltazar, o tal rei mago que tinha a pela típica dos povos africanos, ofereceu mirra, uma erva amarga que simboliza o sofrimento de Cristo.
  
A verdade é que o Baltazar até pode ser mais branco do que eu, se for necessário dizê-lo para que se calem as nossas boas consciências poderei fazê-lo, mas o relatório do governo que assinou num autêntico frete ao governo é mirra, portanto, se o Baltazar em vez do rei do FMI fosse um rei mago seria o Baltazar pois foi este o rei mago que ofereceu a mirra ao menino Jesus.
  
Quanto ao racismo estamos quites, se o Arménio se excedeu o Salassie foi muito mais longe ao insinuar que os portugueses querem viver à conta dos outros o que em linguagem popular se chama xulo.