Concordo que o Estado social seja discutido à porta fechada,
com participantes convidados em instalações confortáveis e com os jornalistas
de biquinho calado.
Que se saiba o Estado social é pago pelos ricos para que os
pobrezinhos andem sossegados e não promovam a disseminação de muitas doenças
contagiosas. Pretende-se que o pobrezinho, em vez de nos andar a incomodar nas
ruas, possa fazer o seu barbecue na Pedreira os Húngaros, poderá ser à base de
entremeada e de couratos, mas o pobre tem direito ao seu grelhadinho ao ar
livre como os titis da Quinta Patiño, da mesma forma que têm direito a um penso
no hospital ou a juntarem-se uma dúzia e fazerem uma vaquinha no quarto de um
hospital público.
Imagine-se um seminário onde o povo pudesse entrar
livremente, na hora do coffee break a corrida às bicas e às miniaturas dos pastéis
de nata lembraria um São Martinho em que o António Costa decidiu oferecer
castanhas assadas no Terreiro do Paço. Se ainda fosse povo mais selecto, fazia
sentido há gente, como os nossos magistrados do MP, até a banca financia
encontros em hotéis de 5 estrelas, ao menos esses, pelo menos alguns, sabem
comer à mesa, mas a populaça?
Sem a populaça presente é possível oferecer uns docinhos
mais gostosos, não há o risco das refinadas narinas de um Riciardi ou de um
Ulrich se sentirem incomodados com os vapores dos sulfatos diversos exalados a
partir do vinho do lado, ou quando o da fila da frente se lembra de cruzar os pés
e virar as solas para trás, deixando o buraco no sapato estabelecer contacto
entre o ar e a meia. Sejamos francos e defendamos que cada macaco deve estar no
seu galho porque isso de preto com cabeleira loura ou branco de carapinha é
para outros ambientes. Até porque se corria um sério risco de a tatuagem da
gaja da fila da frente perturbar a atenção dos da fila atrás.
Mas há um argumento que explica a opção de reservar o debate
a tios e tias, quem é que paga o Estado social? Ora, se são os ricos que pagam
porque hão-de ser os pobres a discutir como o financiar ou quanto pilim há para
gastar com os menos úteis da sociedade, os falhados que por serem inúteis precisam
do resultado do suor Chanel n.º 5 dos que têm capacidades e se esforça, acima
da média e por isso são mais ricos. Trabalham mais ficam menos ricos e ainda são
os outros a discutir quanto é que eles pagam? Por este andar o pedinte da
Igreja tem tabela de preços e o arrumador empresta-nos o carro.
O Gaspar faz muito bem em mandar o Passos meter o Pais na
ordem enquanto o cavaco anda dedicada ao riso de felicidade da nossa zoologia
doméstica. Os jornalistas é que andavam mal, muito mal habituados, o que é isso
de entrar por todo o lado a apanharem as pessoas de surpresas. E então quando a
entrevistas corresponde a uma longa intervenção do jornalista que no fim
pergunta mais ou menos se é assim ou o entrevistador leva nos cornos. Que bebam
uns cafezinhos, que encham os bolsos de scones porque a vida está difícil mas
bico caladinho, eles estão ali para dizer apenas o que o Moedinhas e o representante
do Ângelo Correia lhes disserem!