Quando vejo o Tó entrar na residência oficial de São Bento
quando o Passos Coelho o convoca percebo como lhe agrada o papel de líder da
oposição. Põe aquele ar sério, um olhar vago de quem suporta o enorme peso do
pensamento, faz um ar de menino à espera da hóstia que foi o mais parecido que
arranjou ao que entende ser um partido sério. Sai com ar de quem acabou de ser
importante para o país e feliz pelo seu desempenho.
Compreendo que o estatuto de líder da oposição proporcione
um grande conforto, tanto ou mais do que o proporcionado pelo cargo de
primeiro-ministro. Em as mesmas mordomias e luxos, anda nos mesmos palácios e
palacetes, é recebido com vénias pelos banqueiros, enche a despensa com vinhos
de luxo oferecidos no Natal.
Percebe-se que se goste mais do velho amigo das jotas do que
de muitos dos camaradas do partido, que com ele combine estratégias pessoais e
condicione a acção dos partidos, que prefira um primeiro-ministro que governa
quase na extrema-direita mas é seu amigo do que o seu antecessor na liderança
no partido. Um governa e o outro faz de conta que faz oposição mas sugere que
nada pode fazer porque todas as culpas sejam do seu antecessor, é mais fácil fazer
oposição a um governo que já não existe do que ao governo do seu amigo.
Compreendo que o Tó não tenha pressa de chegar ao poder e se
vá entretendo a sugerir ao amigo primeiro-ministro que não exagere na dose de
austeridade e que faça da sua meia dose uma grande causa nacional. Cortar um
subsídio em vez de dois, despedir 60.000 funcionários em vez de 120.000, cortar
a ADSE a meio em vez de acabar com ela. Esta é a forma mais original de oposição
que este país já teve, a oposição da meia dose.
O Tó perguntou com aquela cara que está a meio caminho entre
a deficiência e a imbecilidade qual era a pressa, fê-lo três vezes sem alterar
aquela cara que muito boa gente designa por cara de parvo. Pois vou
responder-lhe três vezes.
Tenho pressa de ver na liderança da oposição alguém que faça
oposição ao governo actual e não ao governo anterior, que até era do seu próprio
partido. Porque uma democracia com um primeiro-ministro que aquece a bunda com
livros do Salazar e um líder da oposição que pensa com a bunda é tudo menos uma
democracia.
Tenho pressa porque quero que este governo governe melhor e
que em vez de gozar com o líder do PS revendo o memorando com a troika sem lhe
dar cavaco, o respeite, o tema e com isso seja obrigado a moderar as suas políticas.
Quero ver um líder da oposição que seja capaz de desmontar manobras de
propaganda como a ida ao bordel desta semana, que seja capaz de ser coerente e
que não esteja rodeado de imbecis que pensam uma coisa mas lideram um partido
prometendo fazer outra.
Tenho pressa porque mesmo não sendo militante do PS
habituei-me a ver nesse partido a defesa de valores, a coerência de princípios,
a rejeição de liberalismos e acima de tudo a defesa da democracia, da liberdade
e dos direitos sociais. Tenho de pressa de ver o PS ser liderado por alguém à
altura de defender o seu património histórico, que se identifique sem complexos
com os seus valores e com a sua história, por alguém que queira governar
Portugal em vez de ser a muleta de um amigo da ultra direita.