sexta-feira, janeiro 25, 2013

Agarrem-se, vem aí o crescimento!


Esta ida ao mercado continua a parecer uma ida às ditas, mas pela ressaca a que estamos a assistir o mercado em vez de um bordel foi uma casa de alterne e os nossos mercadores terão bebido demais. Foram ao mercado apoiados nas muletas do BCE e com um pedido de um novo resgate entregue em Bruxelas e voltaram endiabrados a prometer crescimento.

O Borges declara o fim da austeridade, o petit Marques Mendes anuncia acordos e Marques Mendes anuncia que acabou a estrada municipal esburacada da austeridade e a viatura vai começar a deslizar a grande velocidade na sua autoestrada do crescimento económico. Não senhor, o país não está vendo partir os seus melhores quadros, os portugueses não foram sujeitos a cortes brutais de rendimentos, o risco de confronto social não existe, o investimento não desapareceu, a banca tornou-se generosas. 

Tudo está a correr bem, a procura externa cresce a olhos vistos e a procura interna faz lembrar os tempos em que os portugueses eram uns gandulos que se fartavam de brincar ao Carnaval, tinham feriados em barda e governos de doidos davam semanas de tolerância para juntar o Natal à Passagem do Ano. As empresas procuram desesperadamente trabalhadores, o mercado imobiliário reanimou, o pessoal da construção voltou ás obras, as esplanadas voltaram a encher e até as discotecas de Albufeira já pensam na hipótese de pedir ao Álvaro que crie reinstaure o fim de semana à portuguesa, com a sexta-feira como dia de descanso.

Há qualquer coisa de errado quando um governo se convence de que basta um tal Passos Coelho fazer um sorriso aos mercados para que haja um congestionamento na IP5 provocado por um grande afluxo de investidores que vão provocar um crescimento em enxurrada. No meio de toda esta bebedeira iniciada pela declaração de António Borges vem a coitada da secretária de Estado do Tesouro alertar que não se pode aliviar a austeridade que quisermos ir ao mercado com as muletas da troika. Alguém se esqueceu de dizer à senhor que o novo discurso não passa de propaganda, querem acenar com a cenoura para que, em troca, os portugueses continuem impávidos e serenos enquanto o Gaspar reformata as classes sociais eliminando a classe média e reduzindo ao mais pobres à miséria ao mesmo tempo que destrói o Estado Social.

Esta ida ao mercado não passa de uma imensa manobra de propaganda destinada a chantagear o Tribunal Constitucional, a reanimar as hostes desorientadas com as sondagens e a aproximação das autárquicas e preparar mais uma vaga de destruição do modelo social herdado do 25 de Abril. Esta gente não está minimamente preocupada com o crescimento da economia, o crescimento que procuram é o crescimento eleitoral do PSD, o mesmo senhor que se estava lixando para as eleições está-se, afinal, lixando para os portugueses e não hesita em usar as suas expectativas e esperanças para se salvar a si próprio.