Esta ida ao mercado continua a parecer uma ida às ditas, mas
pela ressaca a que estamos a assistir o mercado em vez de um bordel foi uma
casa de alterne e os nossos mercadores terão bebido demais. Foram ao mercado
apoiados nas muletas do BCE e com um pedido de um novo resgate entregue em
Bruxelas e voltaram endiabrados a prometer crescimento.
O Borges declara o fim da austeridade, o petit Marques
Mendes anuncia acordos e Marques Mendes anuncia que acabou a estrada municipal
esburacada da austeridade e a viatura vai começar a deslizar a grande
velocidade na sua autoestrada do crescimento económico. Não senhor, o país não
está vendo partir os seus melhores quadros, os portugueses não foram sujeitos a
cortes brutais de rendimentos, o risco de confronto social não existe, o
investimento não desapareceu, a banca tornou-se generosas.
Tudo está a correr bem, a procura externa cresce a olhos
vistos e a procura interna faz lembrar os tempos em que os portugueses eram uns
gandulos que se fartavam de brincar ao Carnaval, tinham feriados em barda e governos
de doidos davam semanas de tolerância para juntar o Natal à Passagem do Ano. As
empresas procuram desesperadamente trabalhadores, o mercado imobiliário reanimou,
o pessoal da construção voltou ás obras, as esplanadas voltaram a encher e até
as discotecas de Albufeira já pensam na hipótese de pedir ao Álvaro que crie reinstaure
o fim de semana à portuguesa, com a sexta-feira como dia de descanso.
Há qualquer coisa de errado quando um governo se convence de
que basta um tal Passos Coelho fazer um sorriso aos mercados para que haja um
congestionamento na IP5 provocado por um grande afluxo de investidores que vão
provocar um crescimento em enxurrada. No meio de toda esta bebedeira iniciada
pela declaração de António Borges vem a coitada da secretária de Estado do
Tesouro alertar que não se pode aliviar a austeridade que quisermos ir ao
mercado com as muletas da troika. Alguém se esqueceu de dizer à senhor que o
novo discurso não passa de propaganda, querem acenar com a cenoura para que, em
troca, os portugueses continuem impávidos e serenos enquanto o Gaspar reformata
as classes sociais eliminando a classe média e reduzindo ao mais pobres à
miséria ao mesmo tempo que destrói o Estado Social.
Esta ida ao mercado não passa de uma imensa manobra de
propaganda destinada a chantagear o Tribunal Constitucional, a reanimar as
hostes desorientadas com as sondagens e a aproximação das autárquicas e
preparar mais uma vaga de destruição do modelo social herdado do 25 de Abril.
Esta gente não está minimamente preocupada com o crescimento da economia, o
crescimento que procuram é o crescimento eleitoral do PSD, o mesmo senhor que
se estava lixando para as eleições está-se, afinal, lixando para os portugueses
e não hesita em usar as suas expectativas e esperanças para se salvar a si
próprio.