É uma injustiça o que por aí se vai dizendo sobre o Artur,
tal como há bactérias boas e bactérias más, também se pode dizer que há contos
do vigários com consequências trágicas e contos do vigário benignos e é esse o
caso da história do Artur Baptista. Aliás, não se entende tanta indignação por
causa de uma entrevista e pouco ou nada
se disse de dois cidadãos mortos em cima de passadeiras.
É evidente que em Lisboa a boa imagem dos nossos jornalistas
vale mais do que a vida de qualquer cidadão comum numa pequena vila da
província. Essa foi uma das lições do Artur, mas o país aprendeu muito mais do
que isso. Aprendeu que no meio dessa classe de prima donas que são os nossos
jornalistas andam a comer-se uns aos outros e a actuação de muitos neste caso
do Artur ultrapassou em muito o que pode ser designado por canalhas.
Mas na mesma Lisboa onde o brilho do jornalista vale mais do
que a vida dos portugueses basta aparecer com o penacho do doutorado não sei
onde e do consultor não se sabe bem de quê é o suficiente para abrir todas as
portas, desde os melhores palácios aos estúdios da televisão. Comem e calam e
depois escrevem artigos denunciando as patranhas do Artur, mas a verdade é que
na hora comeram-nas.
Muitos dos que pediram a pele do Artur não se cansam de
agitar suposto relatório do FMI como se o papelucho fraudulento tivesse para o
desenvolvimento de Portugal que teve para a Grande Revolução Cultural chinesa o
livrinho das citações de Mao. O papel fraudulento do FMI elenca directivas para
lixar os portugueses com a mesma leviandade com que o livrinho de Mao aponta
soluções assentes no uso da AK 47.
O Artur não é doutorado, mas será que o relatório é mesmo da
autoria exclusiva do FMI? É evidente que não, são tantas as citações não referenciadas
no relatório do FMI, são em tão grande número as ideias de governantes
apresentadas como sugestões do FMI que se o relatório do FMI fosse uma teses de
doutoramento o candidato seria exibido numa janela com um cartaz ao pescoço
dizendo “sou um plagiador”.
O relatório do FMI é uma patranha digna do Artur e isso
chama-nos a atenção para outro ponto, uma organização como o FMI quando está
perante uma democracia e não pode recorrer aos serviços de uma polícia política
como a DINA do Pinochet não hesita em recorrer à fraude para enganar um povo.
Não há qualquer diferença entre o Artur e a senhora Lagarde, enquanto o primeiro
se queixa de estar a ser sacrificado a segunda diz que não assume a
responsabilidade pelo que for feito pois será sempre responsabilidade do
governo.
Isto é, o Artur ainda os tem no sítio, coisa que os
rapazolas do FMI não parece terem, veja-se o caso de um tal Salassie que andou
a pavonear-se em seminários, dizendo que se os portugueses não têm dinheiro não
podem ter Estado social, feito o conto do vigário com o seu falso relatório
despareceu, não teve coragem de o apresentar em público e chega-se ao ridículo
de ser um tal Moedas a apresentar um relatório que supostamente é do FMI. Porque
não acreditar que o Artur pode falar em nome do secretário-geral da ONU dizendo
as suas próprias opiniões.
Temos de agradecer ao Artur pois com as suas brincadeiras
não só animou um país, nesse ponto até o Passos Coelho devia estar-lhe grato,
como nos ensinou a conhecer melhor algumas personagens que por aí anda. Já a
patranha do Moedas e do Salassie não é tão benigna como a do Artur, antes pelo
contrário pois quando o povo português se aperceber que estão destruindo o
Estado social para entregar os recursos aos mais ricos através de reduções no
IRC e na TSU ninguém sabe quantas pedras deste país ficarão direitas.
Obrigado Artur.