sexta-feira, janeiro 18, 2013

Obrigado Artur


É uma injustiça o que por aí se vai dizendo sobre o Artur, tal como há bactérias boas e bactérias más, também se pode dizer que há contos do vigários com consequências trágicas e contos do vigário benignos e é esse o caso da história do Artur Baptista. Aliás, não se entende tanta indignação por causa de uma entrevista  e pouco ou nada se disse de dois cidadãos mortos em cima de passadeiras.
  
É evidente que em Lisboa a boa imagem dos nossos jornalistas vale mais do que a vida de qualquer cidadão comum numa pequena vila da província. Essa foi uma das lições do Artur, mas o país aprendeu muito mais do que isso. Aprendeu que no meio dessa classe de prima donas que são os nossos jornalistas andam a comer-se uns aos outros e a actuação de muitos neste caso do Artur ultrapassou em muito o que pode ser designado por canalhas.
  
Mas na mesma Lisboa onde o brilho do jornalista vale mais do que a vida dos portugueses basta aparecer com o penacho do doutorado não sei onde e do consultor não se sabe bem de quê é o suficiente para abrir todas as portas, desde os melhores palácios aos estúdios da televisão. Comem e calam e depois escrevem artigos denunciando as patranhas do Artur, mas a verdade é que na hora comeram-nas.
  
Muitos dos que pediram a pele do Artur não se cansam de agitar suposto relatório do FMI como se o papelucho fraudulento tivesse para o desenvolvimento de Portugal que teve para a Grande Revolução Cultural chinesa o livrinho das citações de Mao. O papel fraudulento do FMI elenca directivas para lixar os portugueses com a mesma leviandade com que o livrinho de Mao aponta soluções assentes no uso da AK 47.
  
O Artur não é doutorado, mas será que o relatório é mesmo da autoria exclusiva do FMI? É evidente que não, são tantas as citações não referenciadas no relatório do FMI, são em tão grande número as ideias de governantes apresentadas como sugestões do FMI que se o relatório do FMI fosse uma teses de doutoramento o candidato seria exibido numa janela com um cartaz ao pescoço dizendo “sou um plagiador”.
  
O relatório do FMI é uma patranha digna do Artur e isso chama-nos a atenção para outro ponto, uma organização como o FMI quando está perante uma democracia e não pode recorrer aos serviços de uma polícia política como a DINA do Pinochet não hesita em recorrer à fraude para enganar um povo. Não há qualquer diferença entre o Artur e a senhora Lagarde, enquanto o primeiro se queixa de estar a ser sacrificado a segunda diz que não assume a responsabilidade pelo que for feito pois será sempre responsabilidade do governo.
  
Isto é, o Artur ainda os tem no sítio, coisa que os rapazolas do FMI não parece terem, veja-se o caso de um tal Salassie que andou a pavonear-se em seminários, dizendo que se os portugueses não têm dinheiro não podem ter Estado social, feito o conto do vigário com o seu falso relatório despareceu, não teve coragem de o apresentar em público e chega-se ao ridículo de ser um tal Moedas a apresentar um relatório que supostamente é do FMI. Porque não acreditar que o Artur pode falar em nome do secretário-geral da ONU dizendo as suas próprias opiniões.
  
Temos de agradecer ao Artur pois com as suas brincadeiras não só animou um país, nesse ponto até o Passos Coelho devia estar-lhe grato, como nos ensinou a conhecer melhor algumas personagens que por aí anda. Já a patranha do Moedas e do Salassie não é tão benigna como a do Artur, antes pelo contrário pois quando o povo português se aperceber que estão destruindo o Estado social para entregar os recursos aos mais ricos através de reduções no IRC e na TSU ninguém sabe quantas pedras deste país ficarão direitas.
Obrigado Artur.