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"Descarga policial" [J. de Sousa]
Jumento do dia
Cavaco Silva
Cavaco Silva falou ao país e pouco ou nada disse de interesse para o país e muito menos a pensar em 2013, aliás, o pouco que disse do que esperava para o anos que agora começa não é mais do que a repetição da mentira gaspariana de crescimento em 2013, uma mentira que Cavaco já tinha adoptado em 2012.
Cavaco já não fala a pensar no país, usa as mensagens que supostamente seriam feitas a pensar no país para justificar as sua decisões e, mais do que isso, as suas ausências, omissões e demissões.
«"O CDS-PP considera que a promulgação do Orçamento do Estado para 2013, atendendo sobretudo às circunstâncias difíceis em que Portugal se encontra, é uma decisão que favorece a estabilidade orçamental, credibiliza o país perante o exterior e constitui uma responsabilidade do ponto de vista da respetiva execução"»
Depois de todo o espectáculo protagonizado por Paulo Portas a quando da apresentação do OE, o CDS repetiu a dose e esperou que todos se pronunciassem sobre a promulgação do diploma para ser o último partido a tomar posição. Para dizer banalidades, como se depois de tudo o que se passou pudessem dizer mais alguma coisa.
Cavaco deixou a promulgação para uma data em que os portugueses nem dessem por isso, o CDS tentou disfarçar a sua posição com o barulho das rolhas a sair das garrafas de espumantes. A coragem desta gente é impressionante!
O CDS tenta disfarçar o indisfarçável, por um qualquer motivo Paulo Portas tem medo de Passos Coelho, será algo do gênero do síndroma Vale e Azevedo?
Será outro burlão?
Será mesmo o Pedro Lains ou por aquilo que diz não será um burlão a apropriar-se da sua identidade?
O fantástico sr, Madureira
«A minha figura do ano, do que ontem acabou e do que hoje começa, é o porteiro da escola dos meus filhos. A tarefa desempenhada pelo fantástico sr. Madureira encerra em si o máximo de eficiência que deve reclamar-se a todos os funcionários e trabalhadores, mas é, simultaneamente, um extraordinário exemplo do mínimo de coerência usado pelo Estado para gerir um dos mais decisivos pilares de um país: o sistema educativo.
Entre turmas do ensino básico e do jardim de infância, a escola do Meiral, em Gaia, tem cerca de 300 alunos. O sr. Madureira sabe, sem exceção, o nome de todos os estudantes e respetivos encarregados de educação. É fácil imaginar a confusão que se instala junto ao portão da escola quando a campainha toca, às 17.30 horas. Pequenos e graúdos aparecem aos magotes, mas nenhum sai da escola sem que o porteiro tenha avistado, do lado de fora, quem os vem buscar. É um trabalho quase insano, mas desempenhado com absoluta eficácia pelo sr. Madureira. Os pais sabem quanto vale este alívio.
O piso do estabelecimento de ensino está pejado de desenhos de jogos tradicionais, todos feitos pelo sr. Madureira, para gosto e gozo das crianças. Este exemplo de dedicação estende-se a todas as tarefas atribuídas ao porteiro.
E aí vem o absurdo: são os pais que têm de quotizar-se para garantir que a escola continua a ter porteiro. Isto, ao mesmo tempo que a Câmara de Vila Nova de Gaia garante livros grátis a todos os alunos, independentemente dos rendimentos auferidos pelos pais. É uma estupidez cuja explicação resulta, pois claro, do caos. Mesmo que quisesse, a Câmara não podia pagar o vencimento do porteiro, porque essa é uma competência do Ministério da Educação. Ora, o Ministério da Educação, apertado nos gastos como está, terá a vida do sr. Madureira (deste e de muitos outros que seguramente estarão espalhados pelas escolas do país) numa das mais baixas escalas de problemas a resolver nos próximos 10 ou 20 anos.
É um vício que me acompanha: para cada reforma anunciada pelo Governo procuro sempre encontrar uma pessoa que nela se encaixe. O resultado raras vezes é animador. A esquizofrenia que rodeia este caso é particularmente reveladora: o Estado que decide à distância será sempre incapaz de resolver problemas como o do sr. Madureira. Que são apenas pequenos na aparência, porque na essência são, afinal, os problemas que verdadeiramente mexem com as nossas vidas, com o nosso quotidiano.
É por isso que o fantástico sr. Madureira, cujas palavras são esmagadas pelo silêncio que as cerca, como diria o Manuel António Pina, é a minha figura do ano. Do que passou, do que hoje começa e dos que aí vêm. Porque, temo, o silêncio há de continuar a ser esmagador.
Bom ano.» [JN]
Paulo Ferreira.