Uma das marcas do tempo que vivemos é a arrogância, donos do
país por suposta determinação da troika ninguém se escapa à arrogância do
governo, nem mesmo os seus próprios membros quando ousam sair da linha. Quem se
mete com o governo leva, quem decide contra o governo é desprezado no processo
de decisão, quem discorda em público é alvo de chacota ou de desprezo.
O empresário vermelho ousou criticar o governo? Logo no dia
seguinte a comunicação social dava conta de que desconfiava que os velhos
aparelhos de ar condicionado da antiga FNAC eram sofisticados instrumentos de espionagem.
Quem o assegurava era Zita Seabra,
alguém que antes de dar conta das delícias da direita tinha sido uma das mais
extremistas militantes do PCP, um verdadeiro modelo de jovem e de mulher dentro
do PCP.
O bispo das Forças Armadas ousou criticar o governo? Logo de
seguida um jornal informava o povo das imensas pensões de que o senhor
beneficiaria, o bispo que criticava a austeridade viveria no luxo e na
abundância, portanto, não tinha autoridade moral para criticar o governo. O
certo é que o bispo desapareceu.
O Presidente da República discordou da política económica de
Vítor Gaspar e disse-o em público? As opiniões de Cavaco foram publicadas em
todos os jornais e repetidas em todos os canais de televisão, mas passados
vários dias o ministro das Finanças desconhecia o conteúdo das declarações de
Cavaco Silva, um sinal de que não quer ou não tempo de saber o que se diz em
Portugal, parece que está mais interessado em ouvir o que se diz nos seminários
em Bona ou no que pensa o ministro das Finanças alemão.
Até o pobre Álvaro foi alvo de chacota quando se lembrou de
cometer o sacrilégio de em plena reunião do Conselho de Ministros ter a ousadia
de propor medidas de crescimento. Foi logo calado pelo Gaspar que lhe terá dito
que não havia dinheiro. Como insistiu foi tratado ao nível de burro e no dia
seguinte alguém se encarregava de se assegurar que a comunicação social dava a
boa nova ao país, no governo quem manda é o Gaspar e se alguém ousa discordar
vai para a janela com orelhas de burro enfiadas na cabeça.
O Paulo Portas criticou o OE? Foi de imediato achincalhado
por metade do PSD que tocou a rebate perante tal ousadia, Portas pagou cara a
ousadia, depois da humilhação o primeiro-ministro meteu-lhe o selo de número
três de um governo, se queria continuar a viajar fazendo de conta que promove a
diplomacia económica teria que se calar e aceitar o estatuto de mero ministro,
ou mais propriamente de um secretário de Estado do Gaspar.