quinta-feira, janeiro 03, 2013

Arrogância


Uma das marcas do tempo que vivemos é a arrogância, donos do país por suposta determinação da troika ninguém se escapa à arrogância do governo, nem mesmo os seus próprios membros quando ousam sair da linha. Quem se mete com o governo leva, quem decide contra o governo é desprezado no processo de decisão, quem discorda em público é alvo de chacota ou de desprezo.

O empresário vermelho ousou criticar o governo? Logo no dia seguinte a comunicação social dava conta de que desconfiava que os velhos aparelhos de ar condicionado da antiga FNAC eram sofisticados instrumentos de espionagem. Quem o  assegurava era Zita Seabra, alguém que antes de dar conta das delícias da direita tinha sido uma das mais extremistas militantes do PCP, um verdadeiro modelo de jovem e de mulher dentro do PCP.

O bispo das Forças Armadas ousou criticar o governo? Logo de seguida um jornal informava o povo das imensas pensões de que o senhor beneficiaria, o bispo que criticava a austeridade viveria no luxo e na abundância, portanto, não tinha autoridade moral para criticar o governo. O certo é que o bispo desapareceu.

O Presidente da República discordou da política económica de Vítor Gaspar e disse-o em público? As opiniões de Cavaco foram publicadas em todos os jornais e repetidas em todos os canais de televisão, mas passados vários dias o ministro das Finanças desconhecia o conteúdo das declarações de Cavaco Silva, um sinal de que não quer ou não tempo de saber o que se diz em Portugal, parece que está mais interessado em ouvir o que se diz nos seminários em Bona ou no que pensa o ministro das Finanças alemão.

Até o pobre Álvaro foi alvo de chacota quando se lembrou de cometer o sacrilégio de em plena reunião do Conselho de Ministros ter a ousadia de propor medidas de crescimento. Foi logo calado pelo Gaspar que lhe terá dito que não havia dinheiro. Como insistiu foi tratado ao nível de burro e no dia seguinte alguém se encarregava de se assegurar que a comunicação social dava a boa nova ao país, no governo quem manda é o Gaspar e se alguém ousa discordar vai para a janela com orelhas de burro enfiadas na cabeça.
  
O Paulo Portas criticou o OE? Foi de imediato achincalhado por metade do PSD que tocou a rebate perante tal ousadia, Portas pagou cara a ousadia, depois da humilhação o primeiro-ministro meteu-lhe o selo de número três de um governo, se queria continuar a viajar fazendo de conta que promove a diplomacia económica teria que se calar e aceitar o estatuto de mero ministro, ou mais propriamente de um secretário de Estado do Gaspar.