A senhora Lagarde disse que foi uma infelicidade não se ter
previsto o risco de inconstitucionalidade de algumas medidas do OE, isso
significa que o imperador Salassie se esqueceu de lhe dizer que se no ano
passado havia uma medida inconstitucional este ano é quase todo o OE que é
inconstitucional, como a famosa refundação do Estado que o próprio Salassie
veio a público apoiar, numa clara intromissão nos assuntos internos do país, também
é potencialmente inconstitucional. Se num ano pode falar-se em descuido, dois
anos seguidos é demais e em vez de uma infelicidade estamos perante uma grande
incompetência, é o resultado de um Salassie que anda por cá armado em imperador
e ignora que está num Estado soberano que é membro de pleno direito do FMI.
Parece que a contradição entre o discurso dos líderes e o
extremismo quase neo-nazi dos técnicos não se limita ao FMI, também Durão
Barroso anda muito preocupado com o impacto social das medidas e manifesta esta
preocupação dias depois de o seu responsável pelos assuntos monetários ter
vindo a público fazer ameaças ao país. Quando se ouve o Durão Barrroso até
parece que estamos perante um líder sindical, quando os técnicos da troika que
pertencem ao BCE e à Comissão abrem a boca até parecem militantes da extrema
direita.
Quem também parece sofrer de doença política bipolar é Mota
Amaral, há uns dias votou favoravelmente no OE, isso depois de ter dado a
entender o contrário. Agora esqueceu-se de ter votado favoravelmente no OE e
diz cobras e lagartos das consequências sociais e políticas que resultarão da
sua aplicação. Esta bipolaridade, reveladora da cobardia política de muito boa
gente, parece ter atingido igualmente Cavaco Silva, neste caso até se pode
falar em tripolaridade, começa por promulgar o OE, depois vem dizer cobras e
lagartos da política económica nele adoptada, e quase ao mesmo tempo dá uma
entrevista ao Expresso em que se manifesta com esperança de que ainda venha a
haver crescimento económico em 2013.
No meio de toda esta bipolaridade já não admira que Lobo
Xavier consiga defender o interesse fiscal de umas quantas empresas ao mesmo
tempo que chefia uma comissão para a reforma do IRC onde supostamente deve
precaver o interesse do Estado. Aliás, a própria posse desta comissão foi toda
ela bipolar. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais tudo fez para chamar a
si o protagonismo, até porque Lobo Xavier tal como ele é gente do CDS e esta reforma
é uma iniciativa do mini-governo CDS. Enquanto o secretário de Estado se
esforçava por ofuscar o ministro este mantinha o papel de número dois do
governo, agora num mini governo de um CDS liderado por Paulo Portas que estava
tão inchado na cerimónia que até parecia ter sido insuflado com ar comprimido.
Eduardo Catroga é uma excepção a esta bipolaridade, o
professor catedrático a tempo parcial 0% é sempre igual a si próprio, não dando
mostras de qualquer oscilação, ora embirra com pentelhos ora coça na Constituição
querendo acabar com ela porque é uma “chata”. Ao menos para Catroga tudo neste
país se resume a pentelhos e a chatos.