Os portugueses gostam muito de partilhar nos benefícios
colectivo do Estado social mas se puderem dão uma facadinha nos impostos, se
puderem evitar pagar os impostos deixando a tarefa para o vizinho. Na hora de
exigir que os políticos cumpram, que o médico do SNS os atenda depressa, que a
sua operação não fique para as calendas é ouvi-los a protestar porque pagam
muitos impostos e não têm contrapartidas que o justifiquem.
Isto não é verdade apenas para o cidadão comum, é verdade
para políticos, jornalistas, deputados e magistrados. Há muita gente convencida
de que o almocinho fica mais barato no restaurante que não emite factura, mesmo
que seja óbvio que se num restaurante uma parte dos vencimentos são pagos fora
da folha, o IVA não é entregue ao Estado, o IRC e o IRS não são declarados, então
os preços deveriam ser muito inferiores aos praticados por aqueles que cumprem
e é óbvio que isso não é verdade.
A possibilidade de repercussão nos preços dos impostos que
ficam por pagar leva muita gente a ser conivente com a evasão fiscal, ignorando
que apesar de molduras penais diferentes quem não paga um imposto inflige à
sociedade um prejuízo idêntico ao corrupto. Ao favorecer a evasão fiscal pensando
que em troca está obtendo um preço mais favorável o cidadão está favorecendo
quem enriquece facilmente, quem é mau empresário porque não quer correr riscos,
quem concorre com os seus concidadãos de forma desleal.
O que ganhamos quando colaboramos com a evasão fiscal?
Ajudamos um empresário pouco escrupuloso, estamos favorecendo os empresários
oportunistas. Em última instância estamos empobrecendo o país e fazemo-lo não só
de forma directa ao ajudarmos alguém a ficar com dinheiro que é de todos, mas
também porque ao favorecermos a concorrência desleal de empresários
oportunistas estamos levando empresários honestos e cumpridores à falência e
desta forma destruímos tecido económico saudável, ajudamos a acabar com bons
empregos, destruímos riqueza e as empresas que a produzem.
Quando colaboramos com a evasão fiscal poderemos ter a ilusão
de que somos mais espertos do que o vizinho, esse palerma que cumpre com todas
as suas obrigações, ou de que estamos ajudando um pobre empresário.
É uma ilusão pensar que ao não exigirmos uma factura
escapamos ao pagamento de um imposto, esse imposto é sempre pago, quando
dispensamos o vigarista de emitir a factura apenas estamos permitindo que
aquilo que pagamos a título de imposto seja subtraído por um vigarista. Mesmo
que não fiquemos com a factura iremos recebê-la mais tarde ou mais cedo e nessa
ocasião vamos perceber que não fomos nada espertalhões e tivemos de pagar o
imposto a dobrar. Quando formos a uma urgência e faltarem os meios, quando
precisarmos de uma escola e ela não tiver qualidade, quando estivermos desempregados
e não recebermos qualquer ajuda vamos perceber que quer queiramos quer não
recebemos sempre a factura, só que por vezes recebemos a dobrar.