terça-feira, janeiro 08, 2013

Não há almoços sem factura


Os portugueses gostam muito de partilhar nos benefícios colectivo do Estado social mas se puderem dão uma facadinha nos impostos, se puderem evitar pagar os impostos deixando a tarefa para o vizinho. Na hora de exigir que os políticos cumpram, que o médico do SNS os atenda depressa, que a sua operação não fique para as calendas é ouvi-los a protestar porque pagam muitos impostos e não têm contrapartidas que o justifiquem.
 
Isto não é verdade apenas para o cidadão comum, é verdade para políticos, jornalistas, deputados e magistrados. Há muita gente convencida de que o almocinho fica mais barato no restaurante que não emite factura, mesmo que seja óbvio que se num restaurante uma parte dos vencimentos são pagos fora da folha, o IVA não é entregue ao Estado, o IRC e o IRS não são declarados, então os preços deveriam ser muito inferiores aos praticados por aqueles que cumprem e é óbvio que isso não é verdade.
 
A possibilidade de repercussão nos preços dos impostos que ficam por pagar leva muita gente a ser conivente com a evasão fiscal, ignorando que apesar de molduras penais diferentes quem não paga um imposto inflige à sociedade um prejuízo idêntico ao corrupto. Ao favorecer a evasão fiscal pensando que em troca está obtendo um preço mais favorável o cidadão está favorecendo quem enriquece facilmente, quem é mau empresário porque não quer correr riscos, quem concorre com os seus concidadãos de forma desleal.
 
O que ganhamos quando colaboramos com a evasão fiscal? Ajudamos um empresário pouco escrupuloso, estamos favorecendo os empresários oportunistas. Em última instância estamos empobrecendo o país e fazemo-lo não só de forma directa ao ajudarmos alguém a ficar com dinheiro que é de todos, mas também porque ao favorecermos a concorrência desleal de empresários oportunistas estamos levando empresários honestos e cumpridores à falência e desta forma destruímos tecido económico saudável, ajudamos a acabar com bons empregos, destruímos riqueza e as empresas que a produzem.
 
Quando colaboramos com a evasão fiscal poderemos ter a ilusão de que somos mais espertos do que o vizinho, esse palerma que cumpre com todas as suas obrigações, ou de que estamos ajudando um pobre empresário.
 
É uma ilusão pensar que ao não exigirmos uma factura escapamos ao pagamento de um imposto, esse imposto é sempre pago, quando dispensamos o vigarista de emitir a factura apenas estamos permitindo que aquilo que pagamos a título de imposto seja subtraído por um vigarista. Mesmo que não fiquemos com a factura iremos recebê-la mais tarde ou mais cedo e nessa ocasião vamos perceber que não fomos nada espertalhões e tivemos de pagar o imposto a dobrar. Quando formos a uma urgência e faltarem os meios, quando precisarmos de uma escola e ela não tiver qualidade, quando estivermos desempregados e não recebermos qualquer ajuda vamos perceber que quer queiramos quer não recebemos sempre a factura, só que por vezes recebemos a dobrar.