O que mais impressiona neste folhetim do relatório do FMI e
na própria actuação desta instituição internacional desde que foi chamada a
participar na troika é a leviandade, a incompetência e o nível banal das
conclusões dos seus documentos ou das intervenções públicas dos seus
responsáveis. A isto acresce a ideia de que o que o FMI sugere não passa dos
fretes de alguns membros mais extremistas do governo, o desrespeito pelo
memorando inicialmente assinado, o total desprezo, pelas instituições
nacionais. Como se tudo isso fosse pouco e o espectáculo não fosse
suficientemente deprimente com as intervenções pública de personalidades como o
imbecil do Salassie, percebe-se agora que entre os relatórios preliminares há
um tira e põe que vai desde ideias de última hora até à censura de conclusões
que não interessam ao governo.
A ideia do rigor e da seriedade do FMI está a ser
estilhaçada com a sua intervenção em Portugal, uma intervenção muito pouco
digna dos pergaminhos da instituição, com responsáveis a comportarem-se como
sargentos da tropa e uma seita de consultores que não passam de fedelhos
contratados à pressa e de pensionistas recrutados noutras administrações
públicas. As propostas não passam de um corta e cola de outros projectos,
copia-se num país para sugerir no outro com ares de conclusão científica,
muitas das supostas ideias do FMI não passam de contrafação institucional, são
cópias de ideias feitas em outros países, às vezes sem que hajam garantias de
sucesso. Não é difícil de adivinhar que, por exemplo, o FMI já esteja a copiar
o sistema português de cobrança de dívidas fiscais ou o e-fatura das faturas
obrigatórias para com ares de grandes sabedores venderem à Grécia a ideia
roubada a Portugal.
A intervenção do FMI em Portugal está a ser uma fraude o que
já foi particularmente assumido ao mais alto nível. Quando se cobram juros
altíssimos, se paga comissões chorudas para nos mandarem gaiatos e pensionistas
e no fim se elaboram relatórios cheios de banalidades está a enganar-se todo um
país. Não faz sentido que o FMI venha defender que é necessário cortar a
despesa do Estado num determinado montante, propondo o maior despedimento colectivo
na história da Europa ocidental sem dedicar uma única página a demonstrar o
porquê desse montante. Parece que toda a outra despesa, que as perdas de
receitas fiscais em consequência do excesso de austeridade, as famosas rendas
excessivas, a renegociação das PPP, o corte com a despes nas empresas públicas
supostamente ineficientes, tudo foi esquecido ou resolvido. Nunca existiu um
BPN e muito menos um BANIF, o Gaspar não perdeu receitas, tudo correu bem, a
receita do FMI foi eficaz, mas mesmo assim é necessário triplicar no corte da
despesa pública.
O FMI foi multiplamente incompetente, foi incompetente
porque elaborou um memorando que agora sugere que estava totalmente errado, foi
incompetente porque não previu o impacto recessivo das suas medidas e as
consequências negativas quer no aumento da despesa, quer na redução da receita,
foi incompetente porque iniciou uma intervenção numa economia sem avaliar
devidamente as causas da situação e ignorando o problema do crescimento, foi
incompetente porque tem ignorado o quadro institucional de um país democrático
insistindo em intervir como se Portugal fosse uma república das bananas onde um
qualquer ditador pode governar sem limites constitucionais, foi incompetente e
agiu de má fé quando assinou um memorando de entendimento com três parceiros
representando um Estado soberano e agora ignora um dos parceiros porque os
outros dois são totalmente obedientes.
Começa a ser tempo de responsabilizar internacionalmente o
FMI pelas consequências da incompetência, má formação humana dos seus
responsáveis e irresponsabilidade dos
responsáveis designados para conduzir a ua delegação em Portugal.