Em relação ao passado há grandes diferenças que estão sendo ignoradas, não se avaliando as consequências:
- Nas anteriores crises estava em causa a necessidade da competitividade das empresas portuguesas afectada pelo valor da moeda, a ajuda financeira foi em divisas e não para cobrir dívidas do Estado.
- As intervenções foram anteriores à entrada na CEE, isto é, não havia livre circulação nem de mercadorias, nem de capitais, nem de trabalhadores. Nessa época uma viagem de avião custava bem mais do 100 euros, não existia internet e mesmo a comunicação entre universidades era escassa.
- As restrições ao consumo destinaram-se a poupar divisas e não foi resultado da destruição premeditada de sectores inteiros da economia como admitiu Passos Coelho num discurso recente. Restringiu-se o consumo pela contingentação dos bens de consumo, faltava açúcar nas mercearias, só havia fruta nacional à venda, comprar um carro obrigava a esperas de meses.
- Com a desvalorização e a ilusão de taxas altas nos depósitos a prazo não só se atraíram as transferências dos emigrantes como se promoveu a poupança interna, até porque com as restrições à saída do dinheiro, a escassez de oferta de bens de consumo e as restrições e taxas elevadas no crédito ao consumo não haviam alternativas convidativas à poupança.
- Estão ocorrendo fenómenos que ninguém parece estar a avaliar devidamente:
- As empresas mais competitivas porque investiram mais em tecnologias ou cuja produção depende de elevados níveis de qualificação profissional estão perdendo competitividade, a desvalorização interna dos trabalhadores está estimulando a emigração dos quadros mais qualificados e isso resulta no aumento dos custos de mão de obra.
- Tal como já sucedeu na Grécia o país já perdeu uma parte significativa dos seus recursos financeiros, não só houve uma corrida aos bancos estrangeiros instalados em Portugal como é óbvio que ocorreu a fuga de capitais.
- A grande redução na importação não são consequência apenas ou principalmente da contracção do consumo, resultam da redução da actividade económica (menos importação de energia e de matérias-primas).
- O país não deixou de importar o que era suposto deixar de importar e, em contrapartida, está importando menos tecnologia, de que resulta necessariamente a perda da competitividade das nossas empresas.
- O desinvestimento forçado nas tecnologias o que condenará a economia a prazo pois nem poderá competir com os baixos salários de países como o Egipto ou a Tunísia, nem poderá competir com os países do nosso espaço Europeu que em relação ao avanço que já tinham vão ganhar-nos uma década.
- O país desperdiçará o que investiu em ensino, universidades e tecnologias ao ver-se abandonado pelos seus melhores quadros, pela nata do ensino e das universidades, em favor de economias como a Alemanha. A Alemanha dos amigos do Gaspar não só ganha em juros com os empréstimos da troika, como ganha com a perda da competitividade das empresas portuguesas (espanholas, gregas e italianas) como ainda consegue milhares de quadros sem ter gasto um tostão para os formar.
- A destruição de sectores inteiros da economia em consequência da eugenia empresarial conduzida por governantes loucos.
- A perda da competitividade daquelas que eram as empresa mais competitivas e melhor habilitadas a concorrer no mercado mundial, em favor das empresas de trabalho intensivo, onde imperam os patos-bravos que enchem as sedes locais dos partidos do poder.