Quando a crise financeira desencadeada pela banca americana
chegou às dívidas soberanas europeias a direita portuguesa tinha um orgasmo
cada vez que as agências de notação desciam mais um ponto. Fica para a história da baixa política
portuguesa a crítica de Cavaco Silva aos que na sua opinião criticavam os
mercados, isto é, os que questionavam o comportamento das agências, as mesmas
que mais tarde ficaram sob fogo de personalidades como a senhora Merkel ou
estão sendo acusadas nos tribunais pelo governo americano.
Mas em relação a Portugal as agências de notação fizeram um
excelente trabalho, ao ponto de terem merecido a defesa militante do Presidente
da República. Algo de inédito à escala mundial, um Presidente da República a
vir a público em defesa das agências de notação que estavam inflacionando
intencionalmente os juros pagos pela dívida soberana portuguesa. O ódio da
família Silva ao então primeiro-ministro tudo justificava.
Quando as agências de notação conseguiram fazer o país
vergar a um pedido de ajuda externa porque os juros se tornaram insustentáveis
a direita portuguesa festejou, o FMI era apresentado com a solução bondosa para
os males nacionais. Dois anos depois a direita festeja o regresso ao mercado,
ainda que a ajuda de intervenções do BCE de que o ministro das Finanças foi um
grande opositor.
Agora que a economia está à beira de um colapso, que as
empresas portuguesas perdem os seus melhores quadros em fuga por causa de uma
carga fiscal que se tornou irracional, que a dívida soberana ultrapassa em
muito os 120% do PIB, que sectores inteiros foram empurrados para a falência, o
grande objectivo é regressar aos mercados.
Isto é, a mesma direita que festejou a saída dos mercados
andou a brincar `política económica, lançou todo um país no empobrecimento, só
para regressar aos mercados com taxas de juro na ordem dos 5%?
Sejamos honestos, não é a terça-feira de carnaval, os quatro
feriados que muitas vezes calham no fim-de-semana ou algumas medidas no mercado
laboral que tornaram a economia portuguesa competitiva. Para as indústrias que
recorrem à mão-de-obra barata era preciso muito mais para que as empresas
encontrem em Portugal as mesmas condições que podem encontrar na Tunísia, no
Egipto ou em qualquer país do Magrebe ou dos CP que mantêm facilidades pautais
na Europa. Para as indústrias ou empresas de prestação de serviço que usam mão
de obra qualificada poderá haver vantagens em apostar em Portugal, o problema é
que com a carga fiscal elevada, o regime de mercado laboral sem regras e a
carga fiscal elevada leva a que sejam os trabalhadores a preferir a emigração
ao estatuto de escravos no seu país.
Então para que serviu o ajustamento? É fácil de fazer as
contas, se somarmos o que foi tirado aos portugueses vai dar, mais coisa menos
coisa, o resultado do somatório das ajudas à banca, das despesas escondidas na Madeira,
do custo do excesso de autarquias, da transferência do fundo de pensões da banca (porque se terão esquecido do fundo de pensões do BdP, será porque era o único que não dava prejuízo?) das famosas rendas excessivas e das PPP que
o governo se “esqueceu” de renegociar. Por outras palavras, o ajustamento
serviu para financiar o lado mais corrupto da sociedade portuguesa. Não admira
que os grandes defensores desta política seja o Ulrich e o pequenote do BCP,
que o Alberto ande tão calado, que não se ouça um autarca criticar o governo,
que as grandes empresas da construção civil andem tão caladinhas apesar do fim
das grandes obras e que a EDP respire alegria.
É caso para dizer que o povo português está sendo ajustado e
mal pago!