O caso do BPN ilustra bem o que é corrupção em Portugal,
como as nossas elites se comportam como proxenetas, como a justiça é uma farsa
e como parece haver uma conspiração de gente bem instalada na capital do país a
viver à custa do povo português.
É evidente que um dia destes o país acompanhará com o maior
interesse o grande julgamento do caso BPN, os magistrados lá estarão com aquele
ar de estátuas do Palácio de São Bento, os senhores do Ministério Público, os
tais que têm um sindicato patrocinado pelos banqueiros, vão aparecer com aquele
ar justiceiro que já lhes conhecemos e os fotógrafos vão se amarfanhar para
conseguir fotografar o grande burlão, o doente, idoso e gasto Oliveira e Costa.
De Oliveira e Costa ninguém vai dizer que foi um dos rapazes
que ajudou Cavaco Silva a fazer a rodagem do BX, que sem o actual Presidente da
República nunca teria saído do anonimato, que uma boa parte da capital negociou
com ele e com alguns artistas que ainda estão no activo os famosos perdões
fiscais e que enquanto foi secretário de Estado acumulou as responsabilidade
pelas despesas e receitas estatais com as do PSD onde desempenhava as funções
de tesoureiro. A confusão terá sido tão grande que quando deixou a parceria governamental
com Cavaco Silva passou de modesto cidadão a poderoso banqueiro e sócio de Dias
Loureiro.
O Dias Loureiro teve a arte e o engenho de escapar, andou a
bronzear-se em Cabo Verde e ao que consta já anda por aí, tomando o pequeno
almoço em hotéis de luxo da capital ou passando o réveillon no Copacabana Palace
na companhia de um outro banqueiro também com passagem por Cabo Verde, que
entretanto se fez doutor e chegou a ministro.
E é a isto que se resume o caso BPN, sete mil milhões, um
culpado e um inocente. O inocente está de boa saúde, o culpado faz lembrar um
daqueles velhos cavalos usados pelos picadores nas corridas de touros à
espanhola, são cavalo velhos destinados a serem sacrificados e que não
sobrevivem a meia dúzia de espectáculos degradantes. Oliveira e Costa já não era o banqueiro
bajulado que enchia as páginas da revista do Expresso contando o seu caso de
sucesso, ou o sócio de Dias Loureiro que dominava uma imensa teia de
relacionamentos envolvendo governos, centenas de autarquias e classe política da direita à esquerda.
Este Oliveira e Costa e os seus parceiros já não convidam personalidades vip do
nosso país, como o actual presidente do Tribunal de Contas, para
administradores não executivos dos bancos da SLN, como era o caso do banco
EFISA, uma das heranças do BPN para os contribuintes portugueses.
O caso BPN foi muito mais do que o Oliveira e Costa, o Dias
Loureiro ou o Franquelim, foram centenas de personalidades que ganharam uma
pequena quota dos sete mil milhões que os portugueses estão a pagar em
subsídios, ainda por cima acusados de terem consumido demais por parceiros
políticos dos vigaristas. São centenas ou mesmo milhares de personalidades que
ganharam com o BPN, ganharam com negócios manhosos envolvendo acções não
cotadas, ganharam com créditos fáceis, a juros baixos e sem garantias, ganharam
em negócios envolvendo autarcas e governantes, ganharam vendendo sistemas de
comunicações, ganharam com os muitos negócios envolvendo as empresas do grupo
SLN.
Há gente da esquerda, do centro e da direita pois nem o
Oliveira e Costa, nem o Dias Loureiro são burros, souberam untar as mãos de
muitas gente, têm “irmãos” à esquerda e à direita, laços familiares com várias
famílias políticas e quase conseguiam juntar a Opus Dei e a maçonaria nas
mesmas administrações.
A maior vigarice no caso BPN já nem está nos sete mil
milhões, está sim na forma com as elites da nossa nação se juntaram para roubar
o país e o povo e agora ainda gastam o dinheiro dos contribuintes para fazerem
encenações julgando aquele que faz de boi da piranha, o boi atirado ás piranhas
para que a manada passe o rio tranquilamente. Quem faz parte da nossa elite
política e que não ganhou com o BPN ou com a SLN que levante o dedo.