Há uma linha que separa as situações de excepção que podem
conduzir um governo eleito legitimamente a governar para além do que poderia de
forma razoável estar previsto no programa eleitoral ou no programa de governo,
de uma governação que obedece a uma agenda que foi escondida dos eleitores e
dos cidadãos para depois se provocar premeditadamente uma situação de excepção
para a usar como fundamento para governar para além de qualquer programa
conhecido e aprovado pelos cidadãos.
Há uma linha que separa uma revisão de um memorando em
consequência de uma situação inesperada, de seis alterações sucessivas do
memorando de acordo com um novo quadro parlamentar e sem que se tenha em
consideração todos os que assinaram o memorando inicial. Não sucedeu nenhum
cataclismo externo ou interno para que se tenham adoptado sucessivas medidas
brutais e muitos dos resultados negativos que agora querem compensar com a
destruição do Estado social são um resultado da incompetência do governo e da
troika, são o resultado de experiências de extremistas que ignoraram o quadro
negocial inicial do memorando.
Há uma fronteira que separa uma crise económica resultante
de medidas de austeridade de uma crise agravada e promovida por medidas de
ajustamento que em vez de resolver a crise financeira têm por objectivo
agravá-la para desta forma justificar um programa económico, social e político
de natureza extremista, que não foi sufragado, que não foi debatido e mesmo
para discutir o estado social o governo limita-se a reunir uns quantos
apoiantes e financiadores dos partidos do regime num salão de um palacete, à
porta fechada e com os jornalistas de boca tapada.
Há uma linha que separa o desemprego resultante de uma crise
económica ou de medida de austeridade adoptadas segundo um memorando negociado
por todos os partidos com representação parlamentar e tornado público em língua
portuguesa, do desemprego provocado por uma política económica decidia em segredo
e que visa transformar o país num laboratório digno do laboratório de Mengele
no campo de Auschwitz.
Há uma linha que separa a falência de empresas devido a uma
crise económica com o consequente aumento do desemprego, com o desemprego
generalizado resultante de uma política premeditada de eugenia empresarial em que
um ministro e três amigos da troika acham que podem decidir que sectores
empresarias que empresas, que trabalhadores e que cidadãos estão a mais no
país.
Há uma linha que separa as políticas aceitáveis em
democracia e promovidas por democratas de políticas próprias de ditaduras e que
só se entendem como concebidas por gente sem formação de mocrata.