segunda-feira, fevereiro 04, 2013

TV Rural

  
Por mais simpática que fosse a figura do apresentador, por mais interessante que os temas fossem, a verdade é que o país do TV Rural já não existe e só a imbecilidade dos nossos deputados os faz pensar que fazendo reviver este tipo de programas conseguem salvar uma agricultura que já não existe. Os jovens das jotas não têm qualquer intenção de pegar na enxada, o que eles querem é tirarem um curso fácil numa qualquer Lusófona, ir à Universidade de Verão de Castelo de Vide para conhecer alguém importante e arranjar um tacho como assessor.
  
A TV Rural está para Portugal como a revista Vida Soviética estava para a Rússia ou para a Ucrânia. Os filhos e netos dos portugueses que apareciam na TV Rural são serventes de pedreiros, doutores, emigrantes, nenhum deles tenciona regressar à agricultura pouco produtiva. O mesmo sucede com as ucranianas rosadinhas que apareciam na capa da Vida Soviética, a nenhuma delas passaria pela cabeça abandonar as cidades da Europa Ocidental para regressarem às aldeias da Ucrânia.
  
Este apelo do nosso parlamento ao velho ruralismo revela uma ideologia que se julgava abandonada por uns e uma grande confusão ideológica dos jotas do Seguro. Além disso, esta cambada revela-se de uma total incompetência pois ignora o que é uma agricultura moderna, revela uma ignorância atroz ao mostrarem que julgam que na agricultura de hoje o mais importante são as couves galegas ou os bróculos que se viam a TV rural. Estes palermas estão confundindo agricultura a sério com umas hortinhas de subsistência cultivadas à base do saber aprendido com uma TV Rural. Os palermas ainda estão no tempo em que os agricultores recorriam ao Borda d’Água para preverem o tempo e só faltou sugerirem à casa da Moeda que passe a publicá-lo na Web do DE electrónico.
  
Mas se o conhecimento da economia desta gente está ao nível dos livros da terceira classe do tempo de Oliveira Salazar, é também aí que a rapaziada do Passos Coelho e do Seguro parece terem ido beber a ideologia que alimenta o seu liberalismo recauchutado. Nem no tempo da antiga Assembleia Nacional os deputados do regime se lembraram de dar directivas à RTP sobre os programas que devia ou não exibir.
  
Estamos perante gente desesperada que face à impotência resultante da sua incompetência foi buscar à parolice ideias para salvarem Portugal. Sugeriram a TV Rural, um dia destes vão sugerir um programa de culinária que promova uma saúde saudável, à base de produtos nacionais e baratinha para que se possa sobreviver com salários de miséria. Quando o envelhecimento da população portuguesa voltar ao debate vão sugerir à RTP a produção de um programa de sexualidade em que se ensine como maximizar a probabilidade de procriar e onde se condene o recurso à contracepção.
  
A TV Rural é muito mais do que um mero programa, é todo um “ó tempo volta para trás”, é procurar no caixote do lixo da história as soluções para uma crise que desejaram, estimularam e agora não sabem como sair dela. Uns queriam ver-se livres do Sócrates para serem governo, outros porque queriam liderar o PS, agora juntam-se e sem saber o que fazer e apelam ao regresso de um outro engenheiro, o Sousa Veloso.