Se os sacrifícios que os portugueses estão fazendo
resultassem na redução da dívida, reequilíbrio das contas públicas e numa
economia mais competitiva e capaz de criar emprego para os jovens valeriam a
pena e até o luso-boche Ulrich teria razão, o povo aguentava esta austeridade e
muita mais.
Mas a verdade é que apesar da austeridade brutal, dos cortes
no Estado Social e do aumento de impostos o défice público só não aumenta mais
porque as contas são aldrabadas com operações contabilísticas que irão gerar
ainda mais défice a médio prazo. Apesar de os portugueses estarem a consumir
muito abaixo do que seria de esperar a dívida externa mantém-se e com todos os
cortes a dívida soberana cresce exponencialmente.
Significa isto que a política económica de Vítor Gaspar está
a correr mal? Não, os banqueiros andam felizes como não se viam há dois anos, o
pequenote do BCP gaba-se de despedir mil trabalhadores e tem razões para se
gabar, o Estado deu-lhe uma ajuda suplementar ao complementar rescisões amigáveis
com subsídios de desemprego. O Ulrich é um verdadeiro pitbull ideológico do
governo, a sua dívida de gratidão é tal que faz lembrar os cães que guardavam
os túmulos dos faraós, sempre alerta e de orelhas espetadas, pronto a morder em
quem ousar criticar o governo. Mais pitbull do que ele só mesmo o grande
merceeiro que consegue descobrir que uma reunião da administração da antiga SLN
podia ser transformada em reunião do conselho de ministros, que o país ficaria
bem servido.
Ora, se Portugal consegue ir aos mercados, os banqueiros
estão felizes e até o Cavaco anda calado não há razões para duvidar de que tudo
está a correr às mil maravilhas. O abandono do país por parte dos jovens mais
qualificados não é problema, a grande aposta do Gaspar é num modelo de crescimento
assente na mão de obra pouco qualificada, é por isso que o país desinvestiu na
formação e no ensino e nada faz para suster a emigração do saber.
E porque motivo estão os patrões da banca tão felizes? A razão
é simples, durante décadas acumularam lucros, fugiram aos impostos,
enriqueceram com o excesso do consumo, ganhara com a especulação nas dívidas
soberanas, corromperam a classe política, mandaram no país. Na hora da crise
montaram uma imensa patranha, elegeram um governo de direita que disse ao povo
que tinha culpas por ter vivido acima das possibilidades e com o mais toikismo
do que a troika promoveu-se um imenso roubo para financiar os banqueiros e
evitar a sua falência.
Façam-se as contas ao dinheiro do BPN, do BANIF, do BPI, do
BCP e do fundo de pensões da banca privada (esqueceram-se do fundo de pensões
do BdP) e facilmente se perceberá que mais euro, menos euro vai dar o total dos
cortes na despesa e do aumento dos impostos, deduzida a quebra nas receitas
ficais.
O ajustamento não passou de uma imensa mentira, mais do que
um ajustamento o que sucedeu foi um transvaze de riqueza dos pobres e da classe
médias para os Ulrichs que andaram a brincar com o dinheiro dos seus clientes
especulando com a dívida grega e ficaram à beira da falência. O país está pior,
destruiu riqueza, perdeu muitos cérebros indispensáveis ao seu desenvolvimento,
destruiu empresas e empregos, acabou com a esperança no futuro. A dívida
externa aumento, o défice disparou, a dívida soberana cresce em flecha, mas os
Ulrichs estão contentes, o do BPN foi ao bolso dos contribuintes, o do BCP
despediu com a ajuda de dinheiros públicos e o do BES entreteve-se a fazer
correcções na declarações do IRS, graças à miséria imposta a muitos portugueses
estão salvos, a sua riqueza já está a valorizar, os seus bancos já apresentam
lucros, os seus accionistas estão contentes com o seu desempenho.