quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Falhados


Se o capitão de um petroleiro que se dirige para Sines adormecer e atirar o navio contra uma praia, derramando o crude e provocando um desastre ambiental o mínimo que lhe sucede é ser preço no momento do desembarque. Não havendo uma causa natural que provoque o desastre o capitão tem responsabilidades criminosas independentemente de o seu acto resultar de negligência ou incompetência.
  
Se um piloto de um avião que se dirige para o aeroporto de Lisboa confundir a auto-estrada com uma das suas pistas e atirar a aeronave contra pos camiões que circulam junto a Alverca provocando a morte de uma parte dos passageiros será acusado pelo crime que cometeu. Não faltarão os que irão dizer que o erro foi tão grosseiro que o piloto deve ser acusado da intencionalidade do crime.
  
Se alguém decidir e assar sardinhas para o Parque Florestal de Monsanto, embebedar-se e adormecer enquanto o carvão arde e provoca um incêndio será acusado do crime, ainda que resulte de uma negligência, ninguém lhe perdoará a destruição de uma floresta tão importante para a capital.

Se o mestre de um cacilheiro beber um copito a mais durante o almoço e no momento de encostar a embarcação a atirar contra o cais  provocando feridos a bordo é muito provável que seja despedido com justa causa e nem tão cedo voltará a conduzir um barco de passageiros.
  
Em todas as profissões ou no dia a dia de cada cidadão todos cometemos erros, mesmo não sendo incompetentes ou negligentes há o risco de se cometer um erro. Por isso temos capacidade para compreender e perdoar os erros alheios. Mas nas situações descritas não se admite o perdão, quem lida com riscos ambientais ou quem transporta pessoas deve ter cuidados acrescidos, não deve ter descuidos.

Mas há uma excepção a esta regra, uma situação em que se pode ser negligente, incompetentes, irresponsável e até fazer experiências que ninguém autorizou. O ministro das Finanças pode usar milhões de portugueses em experiências pessoais, pode destruir centenas de empresas e lançar muita gente na falência e no desemprego, pode destruir uma boa parte da riqueza do país, pode forçar milhares à emigração, pode condenar muitos a perder a casa ou a cair na miséria. Até pode agravar as condições das suas experiências para chegar a situações mais extremas e poder experimentar soluções ainda mais radicais.

Sucede alguma coisa ao ministro? Não, não é negligente, não é criminoso, não é incompetente, o presidente continua a repetir-lhe as falsas promessas e os prognósticos falseados, continua a ser ouvido com muita atenção por audiências de militantes escolhidos e protegidos por seguranças de cantores incómodos. Há dois tipso de falhados, os que podem ser condenados e os que podem falhar repetida e intencionalmente.

Quantos suicídios, quantos emigrantes forçados, quantos portugueses a  ficar sem casa, quantos despedimentos, quantos falidos, qual a percentagem da dívida soberana no PIB, o que será necessário para que um ministro incompetente ou que faça experiências abusivas com todo um país será necessário para que possa ser condenado ou, pelo menos, corrido do cargo?