Se o falso estudo apresentado pelo FMI é uma ofensa à inteligência dos europeus e põe
em causa a credibilidade técnica daquela instituição e constitui razão
suficiente para pensar que a inteligência do seu representante para Portugal
estará entre o deficiente e o imbecil, a forma como o governo fala de refundar
o Estado é mais digna de salchicheiros do que de governantes de um país que até
há pouco tempo estava bem acima da Etiópia do Salassie.
É óbvio que o Estado precisa de ser reestruturado, até podem
dizer refonixe em vez de refundar, a verdade é que tal como estava o Estado era
uma fonte de subdesenvolvimento, era insustentável, era uma imensa máquina de
transvase do dinheiro dos contribuintes para empresas privadas pouco
competitivas, geridas por gente corrupta.
O Estado estava alimentando a banca com juros fáceis e esta
preferia financiar o consumo privado e o Estado a financiar a economia, os seus
grandes investimentos alimentavam os negócios da Opus Dei e da maçonaria
através das empresas de obras públicas. O país ficou refém de uma elite de
xulos corruptos e corruptores que detendo o poder na comunicação social, na banca,
nas grandes obras públicas e até na justiça asseguravam que a riqueza do país
e, principalmente, as ajudas comunitárias iam direitinhas para os seus
bolsos.
Mudar o Estado e o estado a que o país chegou era uma
urgência, mas um Estado não se muda com palpites sobre montantes, ainda por
cima quando se percebe que esses montantes correspondem exactamente aos desvios
colossais no défice público provocados por uma política económica conduzidas
por ultra liberais fanáticos, que parecem estar mais interessados em testar as
suas teses do que em ajudar o país.
Não está em causa saber se o potencial de poupança são cinco
mil, seis mil ou nove mil milhões, o que está em causa é que no Estado há muito
por fazer, há toda uma burocracia instalada que urge lancetar, há gente a mais,
há dirigentes incompetentes por tudo quando é lado, todos eles devidamente
escolhidos por concursos pagos pelo Estado, há tantos generais e almirantes que
até parece que West Point fica ali para os lados do Carregado.
Mas o simples facto de alguém ter dito que a refundação do
Estado significava um corte de 4.000 milhões revela que o Estado vai ficar na
mesma, a burrocracia continuará bem instalada, os generais e almirantes poderão
continuar a brincar às guerrinhas e daqui a dois ou três anos os BPN, os
Ulrichs e o Millennniuns voltarão a sacar ao Estado depois de terem esgotado
mais um ciclo de incompetência e oportunismo económico.
Refundar o Estado com base em metas que ninguém explica e
com um Marques Mendes (ou será Mentes?) a divulgar os palpites para cada ministério é algo pouco
digno de um país. Reestruturar o Estado de um país europeu merece mais cuidado,
não pode ser coisa para gente com linguagem de salchicheiro