A propósito da escolha do Franquelim para secretário de
Estado da Economia o primeiro-ministro poderia ter-se justificado enunciando as
qualidades do senhor que o levaram à escolha e garantindo que o homem era
inocente no caso BPN pois teria sido investigado até às últimas consequências.
Era o que se esperava de quem lidera um partido que durante quase uma década
perseguiu José Sócrates com supostas questões de carácter.
Mas Passos Coelho não fez nada disto, ninguém percebeu o
porquê de uma escolha tão problemática e quanto à idoneidade percebeu-se que
para Passos Coelho ter andando na turma dos Metralha não é motivo para qualquer
nódoa curricular, é tudo boa gente. Dantes ia-se para o governo por se ser
competente e por se ter uma honestidade a toda a prova, agora basta ter a
escolaridade mínima e ainda não ter cumprido prisão.
Não é a primeira vez que as questões são colocadas desta
forma, tornou-se moda definir a fronteira entre corrupto e não corrupto, entre
honesto ou não honesto, com base na lei. Não há corrupção de valores se os
comportamentos não forem condenados pelo Código Penal e apenas é criminoso
aquele que cumpre ou cumpriu pena. É por isso que a moda agora é requerer
atestados de inocência e chega-se ao ridículo de até o próprio Presidente da
República ter emitido um atestado de inocência ao Dias Loureiro.
Longe vão os tempos em que à mulher de César não bastava ser
honesta, tinha de o parecer. Agora aplica-se aos governantes os princípios de
um qualquer cidadão comum e exige-se tanto a um ministro como se exige a alguém
que pretenda usar os lavabos do restaurante.
Para se ser ministro já não é preciso ser competente, basta
o primeiro-ministro achar que é ou que parece o suficiente para passar por o
ser ou ainda que seja muito simplesmente escolhido para o ser. Quanto à competência,
idoneidade ou inocência não é uma cena que assista ao primeiro-ministro, se
alguém acha que um governante não possui um a destas qualidades que o prove.
A partir de agora há um critério na escolha dos governantes
que pode ser designado por critério Franquelim, o governante pode ser burro,
incompetente, desonesto ou o que quer que seja, mas para que isso seja um
inconveniente é necessário que alguém o ateste. Para se provar que se é burro é
preciso um atestado médico declarando-o, para se demonstrar a desonestidade é
preciso uma sentença transitada em julgado. Se nada disto foi apresentado então
a escolha do primeiro-ministro foi excelente e o país será bem governado.