terça-feira, fevereiro 05, 2013

O critério Franquelim


A propósito da escolha do Franquelim para secretário de Estado da Economia o primeiro-ministro poderia ter-se justificado enunciando as qualidades do senhor que o levaram à escolha e garantindo que o homem era inocente no caso BPN pois teria sido investigado até às últimas consequências. Era o que se esperava de quem lidera um partido que durante quase uma década perseguiu José Sócrates com supostas questões de carácter.

Mas Passos Coelho não fez nada disto, ninguém percebeu o porquê de uma escolha tão problemática e quanto à idoneidade percebeu-se que para Passos Coelho ter andando na turma dos Metralha não é motivo para qualquer nódoa curricular, é tudo boa gente. Dantes ia-se para o governo por se ser competente e por se ter uma honestidade a toda a prova, agora basta ter a escolaridade mínima e ainda não ter cumprido prisão.

Não é a primeira vez que as questões são colocadas desta forma, tornou-se moda definir a fronteira entre corrupto e não corrupto, entre honesto ou não honesto, com base na lei. Não há corrupção de valores se os comportamentos não forem condenados pelo Código Penal e apenas é criminoso aquele que cumpre ou cumpriu pena. É por isso que a moda agora é requerer atestados de inocência e chega-se ao ridículo de até o próprio Presidente da República ter emitido um atestado de inocência ao Dias Loureiro.

Longe vão os tempos em que à mulher de César não bastava ser honesta, tinha de o parecer. Agora aplica-se aos governantes os princípios de um qualquer cidadão comum e exige-se tanto a um ministro como se exige a alguém que pretenda usar os lavabos do restaurante.

Para se ser ministro já não é preciso ser competente, basta o primeiro-ministro achar que é ou que parece o suficiente para passar por o ser ou ainda que seja muito simplesmente escolhido para o ser. Quanto à competência, idoneidade ou inocência não é uma cena que assista ao primeiro-ministro, se alguém acha que um governante não possui um a destas qualidades que o prove.

A partir de agora há um critério na escolha dos governantes que pode ser designado por critério Franquelim, o governante pode ser burro, incompetente, desonesto ou o que quer que seja, mas para que isso seja um inconveniente é necessário que alguém o ateste. Para se provar que se é burro é preciso um atestado médico declarando-o, para se demonstrar a desonestidade é preciso uma sentença transitada em julgado. Se nada disto foi apresentado então a escolha do primeiro-ministro foi excelente e o país será bem governado.